(ENEM -2014) TEXTO l Joo Guedes, um dos assduos frequentadores do boliche do capito, mudara-se da campanha havia trs anos. Trs anos de pobreza na cidade bastaram para o degradar. Ao morrer, no tinha um vintm nos bolsos e fazia dois meses que sara da cadeia, onde estivera preso por roubo de ovelha. A histria de sua desgraa se confunde com a da maioria dos que povoam a aldeia de Boa Ventura, uma cidadezinha distante, triste e precocemente envelhecida, situada nos confins da fronteira do Brasil com o Uruguai. MARTINS, C. Porteira fechada. Porto Alegre: Movimento, 2001 (fragmento). TEXTO II Comecei a procurar emprego, j topando o que desse e viesse, menos complicao com os homens, mas no tava fcil. Fui na feira, fui nos bancos de sangue, fui nesses lugares que sempre do para descolar algum, fui de porta em porta me oferecendo de faxineiro, mas tava todo mundo escabreado pedindo referncias, e referncias eu s tinha do diretor do presdio. FONSECA, R. Feliz Ano Novo. So Paulo: Cia. das Letras, 1989 (fragmento). A oposio entre campo e cidade esteve entre as temticas tradicionais da literatura brasileira. Nos fragmentos dos dois autores contemporneos, esse embate incorpora um elemento novo: a questo da violncia e do desemprego. As narrativas apresentam confluncia, pois nelas o(a)
(ENEM - 2014) O correr da vida embrulha tudo. A vida assim: esquenta e esfria, aperta e da afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente coragem. ROSA, J. G. Grande serto: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. No romance Grande serto: veredas, o protagonista Riobaldo narra sua trajetria de jaguno. A leitura do trecho permite identificar que o desabafo de Riobaldo se aproxima de um(a):
(ENEM - 2014) H qualquer coisa de especial nisso de botar a cara na janela em crnica de jornal eu no fazia isso h muitos anos, enquanto me escondia em poesia e fico. Crnica algumas vezes tambm feita, intencionalmente, para provocar.Alm do mais, em certos dias mesmo o escritor mais escolado no est l grande coisa. Tem os que mostram sua cara escrevendo para reclamar:moderna demais, antiquada demais. Algunsdiscorrem sobre o assunto, e gostoso compartilhar ideias. H os textos que parecem passar despercebidos, outros rendem um monto de recados: Voc escreveu exatamente o que eu sinto, Isso exatamente o que falo com meus pacientes, isso que digo para meus pais, Comentei com minha namorada.Os estmulos so valiosos pra quem nesses tempos andava meio assim: como me botarem no colo tambm eu preciso.Na verdade, nunca fui to posta no colo por leitores como na janela do jornal. De modo que est sendo tima, essa brincadeira sria, com alguns textos que iam acabar neste livro, outros espalhados por a.Porque eu levo a srio ser srio... mesmo quando parece que estou brincando: essa uma das maravilhas de escrever. Como escrevi h muitos anos e continua sendo a minha verdade: palavras so meu jeito mais secreto de calar. LUFT, L. Pensar transgredir. Rio de Janeiro: Record, 2004 Os textos fazem uso constante de recursos que permitem a articulao entre suas partes. Quanto construo do fragmento, o elemento:
(ENEM - 2014) Era um dos meus primeiros dias na sala de msica. A fim de descobrirmos o que deveramos estar fazendoali, propus classe um problema. Inocentemente perguntei: O que msica? Passamos dois dias inteiros tateando em busca de uma definio. Descobrimos que tnhamos de rejeitar todas as definies costumeiras porque elas no eram suficientemente abrangentes. O simples fato que, medida que a crescente margem a que chamamos de vanguarda continua suas exploraes pelas fronteiras do som, qualquer definio se torna difcil. Quando John Cage abre a porta da sala de concerto e encoraja os rudos da rua a atravessar suas composies, ele ventila a arte da msica com conceitos novos e aparentemente sem forma. SCHAFER, R. M. O ouvido pensante. So Paulo: Unesp, 1991 (adaptado) A frase Quando John Cage abre a porta da sala de concerto e encoraja os rudos da rua a atravessar suas composies, na proposta de Schafer de formular uma nova conceituao de msica, representa a:
(ENEM - 2014) Censura moralista H tempos que a leitura est em pauta. E, diz-se, em crise. Comenta-se esta crise, por exemplo, apontando a precariedade das prticas de leitura, lamentando a falta de familiaridade dos jovens com livros, reclamando da falta de bibliotecas em tantos municpios, do preo dos livros em livrarias, num nunca acabar de problemas e de carncias. Mas, de um tempo para c, pesquisas acadmicas vm dizendo que talvez no seja exatamente assim, que brasileiros leem, sim, s que leem livros que as pesquisas tradicionais no levam em conta. E, tambm de um tempo para c, polticas educacionais tm tomado a peito investir em livros e em leitura. LAJOLO, M. Disponvel em: www.estadao.com.br. Acesso em: 2 dez. 2013 (fragmento). Os falantes, nos textos que produzem, sejam orais ou escritos, posicionam-se frente a assuntos que geram consenso ou despertam polmica. No texto, a autora
(ENEM - 2014) S h uma sada para a escola se ela quiser ser mais bem-sucedida: aceitar a mudana da lngua como um fato. Isso deve significar que a escola deve aceitar qualquer forma da lngua em suas atividades escritas? No deve mais corrigir? No! H outra dimenso a ser considerada: de fato, no mundo real da escrita, no existe apenas um portugus correto, que valeria para todas as ocasies: o estilo dos contratos no o mesmo do dos manuais de instruo; o dos juzes do Supremo no o mesmo do dos cordelistas; o dos editoriais dos jornais no o mesmo do dos cadernos de cultura dos mesmos jornais. Ou do de seus colunistas. POSSENTI, S. Gramtica na cabea. Lngua Portuguesa, ano 5, n. 67, maio 2011 (adaptado). Srio Possenti defende a tese de que no existe um nico portugus correto. Assim sendo, o domnio da lngua portuguesa implica, entre outras coisas, saber
(ENEM - 2014) eu acho um fato interessante... n... foi como meu pai e minha me vieram se conhecer... n... que... minha me morava no Piau com toda famlia... n... meu... meu av... materno no caso... era maquinista... ele sofreu um acidente... infelizmente morreu... minha me tinha cinco anos... n... e o irmo mais velho dela... meu padrinho...tinha dezessete e ele foi obrigado a trabalhar... foi trabalhar no banco... e... ele foi... o banco... no caso... estava...com um nmero de funcionrios cheio e ele teve que ir para outro local e pediu transferncia prum local mais perto de Parnaba que era a cidade onde eles moravam e por engano o... o... escrivo entendeu Paraba... n...e meu... e minha famlia veio parar em Mossor que era exatamente o local mais perto onde tinha vaga pra funcionrio do Banco do Brasil e:: ela foi parar na rua do meu pai... n... e comearam a se conhecer... namoraram onze anos... n... pararam algum tempo... brigaram... lgico... porque todo relacionamento tem uma briga... n...e eu achei esse fato muito interessante porque foi uma coincidncia incrvel... n... como vieram a se conhecer... namoraram e hoje... e at hoje esto juntos... dezessete anos de casados CUNHA, M. A. F. (Org.) . Corpus discurso gramtica: a lngua falada eescrita na cidade do Natal. Natal: EdUFRN, 1998. Na transcrio de fala, h um breve relato de experincia pessoal, no qual se observa a frequente repetio de n. Essa repetio um(a):
(ENEM - 2014) Blog concebido como um espao onde o blogueiro livre para expressar e discutir o que quiser na atividade da sua escrita, com a escolha de imagens e sons que compem o todo do texto veiculado pela internet, por meio dos posts. Assim, essa ferramenta deixa de ter como nica funo a exposio de vida e/ou rotina de algum como em um dirio pessoal , funo para qual serviu inicialmente e que o popularizou, permitindo tambm que seja um espao para a discusso de ideias, trocas e divulgao de informaes. A produo dos blogs requer uma relao de troca, que acaba unindo pessoas em torno de um ponto de interesse comum. A fora dos blogs est em possibilitar que qualquer pessoa, sem nenhum conhecimento tcnico, publique suas ideias e opinies na web e que milhes de outras pessoas publiquem comentrios sobre o que foi escrito, criando um grande debate aberto a todos. LOPES, B. O. A linguagem dos blogs e as redes sociais. Disponvel em: www.fateczl.edu.br. Acesso em: 29 abr. 2013 (adaptado). De acordo com o texto, o blog ultrapassou sua funo inicial e vem se destacando como
(ENEM - 2014) Camels Abenoado seja o camel dos brinquedos de tosto: O que vende balezinhos de cor O macaquinho que trepa no coqueiro O cachorrinho que bate com o rabo Os homenzinhos que jogam boxe A perereca verde que de repente d um pulo que engraado E as canetinhas-tinteiro que jamais escrevero coisa alguma. Alegria das caladas Uns falam pelos cotovelos: - O cavalheiro chega em casa e diz: Meu filho, vai buscar um pedao de banana para eu acender o charuto. Naturalmente o menino pensar: Papai est malu... Outros, coitados, tm a lngua atada. Todos porm sabem mexer nos cordis como o tino ingnuo de demiurgos de inutilidades. E ensinam no tumulto das ruas os mitos heroicos da meninice... E do aos homens que passam preocupados ou tristes uma lio de infncia. BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007 Uma das diretrizes do Modernismo foi a percepo de elementos do cotidiano como matria de inspirao tendncia e alcana expressividade porque:
(ENEM - 2014) Talvez parea excessivo o escrpulo do Cotrim, a quem no souber que ele possua um carter ferozmente honrado. Eu mesmo fui injusto com ele durante os anos que se seguiram ao inventrio de meu pai. Reconheo que era um modelo. Arguam-no de avareza, e cuido que tinham razo; mas a avareza apenas a exagerao de uma virtude, e as virtudes devem ser como os oramentos: melhor o saldo que o dficit. Como era muito seco de maneiras, tinha inimigos que chegavam a acus-lo de brbaro. O nico fato alegado neste particular era o de mandar com frequncia escravos ao calabouo, donde eles desciam a escorrer sangue; mas, alm de que ele s mandava os perversos e os fujes, ocorre que, tendo longamente contrabandeado em escravos, habituara-se de certo modo ao trato um pouco mais duro que esse gnero de negcio requeria, e no se pode honestamente atribuir ndole original de um homem o que puro efeito de relaes sociais. A prova de que o Cotrim tinha sentimentos pios encontrava-se no seu amor aos filhos, e na dor que padeceu quando morreu Sara, dali a alguns meses; prova irrefutvel, acho eu, e no nica. Era tesoureiro de uma confraria, e irmo de vrias irmandades, e at irmo remido de uma destas, o que no se coaduna muito com a reputao da avareza; verdade que o benefcio no cara no cho: a irmandade (de que ele fora juiz) mandara-lhe tirar o retrato a leo. ASSIS, M. Memrias pstumas de Brs Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. Obra que inaugura o Realismo na literatura brasileira,Memrias pstumas de Brs Cubascondensa uma expressividade que caracterizaria o estilo machadiano: a ironia. Descrevendo a moral de seu cunhado, Cotrim, o narrador-personagem Brs Cubas refina a percepo irnica ao
(ENEM - 2014) O exerccio da crnica Escrever prosa uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz um cronista; no prosa de um ficcionista,na qual este levado meio a tapas pelas personagens e situaes que, azar dele, criou porque quis. Com um prosador do cotidiano, a coisa fia mais fino. Senta-se ele diante de sua mquina, olha atravs da janela e busca fundo em sua imaginao um fato qualquer, de preferncia colhido no noticirio matutino, ou da vspera, em que, com as suas artimanhas peculiares, possa injetar um sangue novo. Se nada houver, resta-lhe o recurso de olhar em torno e esperar que, atravs de um processo associativo, surja-lhe de repente a crnica, provinda dos fatos e feitos de sua vida emocionalmente despertados pela concentrao. Ou ento, em ltima instncia, recorrer ao assunto da falta de assunto, j bastante gasto, mas do qual, no ato de escrever, pode surgir o inesperado. MORAES, V. Para viver um grande amor: crnicas e poemas. So Paulo: Cia. das Letras, 1991. Predomina nesse texto a funo da linguagem que se constitui
(ENEM - 2014) E se a gua potvel acabar? O que aconteceria se a gua potvel do mundo acabasse? As teorias mais pessimistas dizem que a gua potvel deve acabar logo, em 2050. Nesse ano, ningum mais tomar banho todo dia. Chuveiro com gua s duas vezes por semana. Se algum exceder 55 litros de consumo (metade do que a ONU recomenda), seu abastecimento ser interrompido. Nos mercados, no haveria carne, pois, se no h gua para voc, imagine para o gado. Gastam-se 43 mil litros de gua para produzir 1 kg de carne. Mas, no s ela que faltar. A Regio Centro-Oeste do Brasil, maior produtor de gros da Amrica Latina em 2012, no conseguiria manter a produo. Afinal, no pas, a agricultura e a agropecuria so, hoje, as maiores consumidoras de gua, com mais de 70% do uso. Faltariam arroz, feijo, soja, milho e outros gros. Disponvel em: http://super.abril.com.br.Acesso em: 30 jul. 2012 A lngua portuguesa dispe de vrios recursos para indicar a atitude do falante em relao ao contedo de seu enunciado. No incio do texto, o verbo dever contribui para expressar:
(ENEM - 2014) O texto introduz uma reportagem a respeito do futuro da televiso, destacando que as tecnologias a ela incorporadas sero responsveis por:
(ENEM - 2014) Quando Deus redimiu da tirania Da mo do Fara endurecido O Povo Hebreu amado, e esclarecido, Pscoa ficou da redeno o dia. Pscoa de flores, dia de alegria quele povo foi to afligido O dia, em que por Deus foi redimido; Ergo sois vs, Senhor, Deus da Bahia. Pois mandado pela Alta Majestade Nos remiu de to triste cativeiro, Nos livrou de to vil calamidade. Quem pode ser seno um verdadeiro Deus, que veio estirpar desta cidade o Fara do povo brasileiro. (DAMASCENO, D.Melhores poemas: Gregrio de Matos. So Paulo: 2006) Com umaelaborao delinguagem e uma visodemundoqueapresentamprincpios barrocos, o soneto deGregrio de Matos apresentatemtica expressapor
(ENEM - 2014) O Brasil sertanejo Que tipo de msica simboliza o Brasil? Eis uma questo discutida h muito tempo, que desperta opinies extremadas. H fundamentalistas que desejam impor ao pblico um tipo de som nascido das razes socioculturais do pas. O samba. Outros, igualmente nacionalistas, desprezam tudo aquilo que no tem estilo. Sonham com o imprio da MPB de Chico Buarque e Caetano Veloso. Um terceiro grupo, formado por gente mais jovem, escuta e cultiva apenas a msica internacional, em todas as vertentes. E mais ou menos ignora o resto. A realidade dos hbitos musicais do brasileiro agora est claro, nada tem a ver com esses esteretipos. O gnero que encanta mais da metade do pas o sertanejo, seguido de longe pela MPB e pelo pagode. Outros gneros em ascenso, sobretudo entre as classes C, D e E, so o funk e o religioso, em especial o gospel.Rock e msica eletrnica so msicas de minoria. o que demonstra uma pesquisa pioneira feita entre agosto de 2012 e agosto de 2013 pelo Instituto Brasileiro de Opinio Pblica e Estatstica (Ibope). A pesquisa Tribos musicais - o comportamento dos ouvintes de rdio sob uma nov tica faz um retrato do ouvinte brasileiro e traz algumas novidades. Para quem pensava que a MPB e o samba ainda resistiam como baluartes da nacionalidade, uma m notcia: os dois gneros foram superados em popularidade. O Brasil moderno no tem mais o perfil sonoro dos anos 1970, que muitos gostariam que se eternizasse. A cara musical do pas agora outra. GIRON, L. A. poca, n. 805, out. 2013 (fragmento) O texto objetiva convencer o leitor de que a configuraoda preferncia musical dos brasileiros no mais a mesma da dos anos 1970. A estratgia de argumentao para comprovar essa posio baseia-se no(a)