(ENEM - 2010) A Herança Cultural da Inquisição A Inquisição gerou uma série de comportamentos humanos defensivos na população da época, especialmente por ter perdurado na Espanha e em Portugal durante quase 300 anos, ou no mínimo quinze gerações. Embora a Inquisição tenha terminado há mais de um sculo, a pergunta que fiz a vrios socilogos, historiadorese psicólogos era se alguns desses comportamentos culturais não poderiam ter-se perpetuado entre nós. Na maioria, as respostas foram negativas, ou seja, embora alterasse sem dúvida o comportamento da época, nenhum comportamento permanece tanto tempo depois, sem reforço ou estímulo continuado. Não sou psicólogo nem sociólogo para discordar, mas tenho a impressão de que existem alguns comportamentos estranhos na sociedade brasileira, e que fazem sentido se você os considerar resquícios da era da Inquisição. [...] KANITZ, S. A Herança Cultural da Inquisição. In:Revista Veja. Ano 38, no 5, 2 fev. 2005 (fragmento). Considerando-se o posicionamento do autor do fragmento a respeito de comportamentos humanos, o texto
(ENEM - 2010) Resta saber o que ficou nas lnguas indgenas no Portugus do Brasil. Serafim da Silva Neto afirma: No Brasil no h, positivamente, influncia das lnguas africanas ou amerndias. Todavia, difcil de aceitar que um longo perodo de bilinguismo de dois sculos no deixasse marcas no portugus do Brasil. ELIA, S.Fundamentos Histrico-Lingusticos do Portugus do Brasil.Rio de Janeiro: Lucerna, 2003 (adaptado). No final do sculo XVIII, no norte do Egito, foi descoberta a Pedra de Roseta, que continha um texto escrito em egpcio antigo, uma verso desse texto chamada demtico, e o mesmo texto escrito em grego. At ento, a antiga escrita egpcia no estava decifrada. O ingls Thomas Young estudou o objeto e fez algumas descobertas como, por exemplo, a direo em que a leitura deveria ser feita. Mais tarde, o francs Jean-Franois Champollion voltou a estud-la e conseguiu decifrar a antiga escrita egpcia a partir do grego, provando que, na verdade, o grego era a lngua original do texto e que o egpcio era uma traduo. Com base na leitura dos textos conclui-se, sobre as lnguas, que
(ENEM - 2010) Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaosa, o fogo enguiado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mo, no outras, mas essas apenas. LISPECTOR, C. Laos de famlia. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. A autora emprega por duas vezes o conectivo mas no fragmento apresentado. Observando aspectos da organizao, estruturao e funcionalidade dos elementos que articulam o texto, o conectivo mas
(ENEM - 2010) A Internet que voc faz Uma pequena inveno, aWikipdia, mudou o jeito de lidarmos com informaes na rede. Trata-se de uma enciclopdia virtual colaborativa, que feita e atualizada por qualquer internauta que tenha algo a contribuir. Em resumo: como se voc imprimisse uma nova pgina para a publicao desatualizada que encontrou na biblioteca. Antigamente, quando precisvamos de alguma informao confivel, tnhamos a enciclopdia como fonte segura de pesquisa para trabalhos, estudos e pesquisa em geral. Contudo, a novidade trazida pelaWikipdianos coloca em uma nova circunstncia, em que no podemos confiar integralmente no que lemos. Por ter como lema principal a escritura coletiva, seus textos trazem informaes que podem ser editadas e reeditadas por pessoas do mundo inteiro. Ou seja, a relevncia da informao no determinada pela tradio cultural, como nas antigas enciclopdias, mas pela dinmica da mdia. Assim, questiona-se a possibilidade de serem encontradas informaes corretas entre sabotagens deliberadas e contribuies erradas. NO, A. et al. A Internet que voc faz. In:Revista PENSE!Secretaria de Educao do Estado do Cear. Ano 2, n. 3, mar.-abr. 2010 (adaptado). As novas Tecnologias de Informao e Comunicao, como aWikipdia, tm trazido inovaes que impactaram significativamente a sociedade. A respeito desse assunto, o texto apresentado mostra que a falta de confiana na veracidade dos contedos registrados naWikipdia
(ENEM -2010) Texto I Logo depois transferiram para o trapiche o depsito dos objetos que o trabalho do dia lhes proporcionava. Estranhas coisas entraram ento para o trapiche. No mais estranhas, porm, que aqueles meninos, moleques de todas as cores e de idades as mais variadas, desde os nove aos dezesseis anos, que noite se estendiam pelo assoalho e por debaixo da ponte e dormiam, indiferentes ao vento que circundava o casaro uivando, indiferentes chuva que muitas vezes os lavava, mas com os olhos puxados para as luzes dos navios, com os ouvidos presos s canes que vinham das embarcaes... AMADO, Jorge. Capites da Areia. So Paulo: Companhia das Letras, 2008 (Fragmento). Texto II margem esquerda do rio Belm, nos fundos do mercado de peixe, ergue-se o velho ingazeiro ali os bbados so felizes. Curitiba os considera animais sagrados, prov as suas necessidades de cachaa e piro. No trivial contentavam-se com as sobras do mercado. TREVISAN, Dalton. 35 noites de paixo: contos escolhidos. Rio de Janeiro: BestBolso, 2009 (Fragmento). Sob diferentes perspectivas, os fragmentos citados so exemplos de uma abordagem literria recorrente na literatura brasileira do sculo XX. Em ambos os textos,
(Enem 2010) Soneto J da morte o palor me cobre o rosto, Nos lbios meus o alento desfalece, Surda agonia o corao fenece, E devora meu ser mortal desgosto! Do leito embalde no macio encosto Tento o sono reter!... j esmorece O corpo exausto que o repouso esquece... Eis o estado em que a mgoa me tem posto! O adeus, o teu adeus, minha saudade, Fazem que insano do viver me prive E tenha os olhos meus na escuridade. D-me a esperana com que o ser mantive! Volve ao amante os olhos por piedade, Olhos por quem viveu quem j no vive! AZEVEDO, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. O ncleo temtico do soneto citado tpico da segunda gerao romntica, porm configura um lirismo que o projeta para alm desse momento especfico. O fundamento desse lirismo
(ENEM - 2010) Figura 1: Disponvel em: http://www.clicrbs.com.br/blog/fotos/235151post_foto.jpg. Figura 2: Disponvel em: http://esporte.hsw.uol.com.br/volei-jogos-olimpicos.htm. Figura 3: Disponvel em: http://www.arel.com.br/eurocup/volei/ Acesso em: 27 abr. 2010. O voleibol um dos esportes mais praticados na atualidade. Est presente nas competies esportivas, nos jogos escolares e na recreao. Nesse esporte, os praticantes utilizam alguns movimentos especficos como: saque, manchete, bloqueio, levantamento, toque, entre outros. Na sequncia de imagens, identificam-se os movimentos de
(ENEM - 2010) O presidente Lula assinou, em 29 de setembro de 2008, decreto sobre o Novo Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa. As novas regras afetam principalmente o uso dos acentos agudo e circunflexo, do trema e do hfen. Longe de um consenso, muita polmica tem-se levantado em Macau e nos oito pases de lngua portuguesa: Brasil, Angola, Cabo Verde, Guin-Bissau, Moambique, Portugal, So Tom e Prncipe e Timor leste. Comparando as diferentes opinies sobre a validade de se estabelecer o acordo para fins de unificao, o argumento que, em grande parte, foge a essa discusso
(Enem 2010) Texto I O chamado fumante passivo aquele indivduo que no fuma, mas acaba respirando a fumaa dos cigarros fumados ao seu redor. At hoje, discutem-se muito os efeitos do fumo passivo, mas uma coisa certa: quem no fuma no obrigado a respirar a fumaa dos outros. O fumo passivo um problema de sade pblica em todos os pases do mundo. Na Europa, estima-se que 79% das pessoas esto expostas fumaa de segunda mo, enquanto, nos Estados Unidos, 88% dos no fumantes acabam fumando passivamente. A Sociedade do Cncer da Nova Zelndia informa que o fumo passivo a terceira entre as principais causas de morte no pas, depois do fumo ativo e do uso de lcool. Disponvel em: www.terra.com.br. Acesso em: 27 abr. 2010 (fragmento). Texto II Disponível em:http://rickjaimecomics.blogspot.com. Acesso em: 27 abr. 2010. Ao abordar a questo do tabagismo, os textos I e IIprocuram demonstrar que
(ENEM -2010) Todas as manhs quando acordo, experimento um prazer supremo: o de ser Salvador Dal. NRET, G. Salvador Dal. Taschen, 1996. Assim escreveu o pintor dos relgios moles e das girafas em chamas em 1931. Esse artista excntrico deu apoio ao general Franco durante a Guerra Civil Espanhola e, por esse motivo, foi afastado do movimento surrealista por seu lder, Andr Breton. Dessa forma, Dal criou seu prprio estilo, baseado na interpretao dos sonhos e nos estudos de Sigmund Freud, denominado mtodo de interpretao paranoico. Esse mtodo era constitudo por textos visuais que demonstram imagens
(ENEM -2010) Choque a 36 000 km/h A faixa que vai de 160 quilmetros de altitude em volta da terra assemelha-se a uma avenida congestionada onde orbitam 3 000 satlites ativos. Eles disputam espao com 17 000 fragmentos de artefatos lanados pela Terra e que se desmancharam foguetes, satlites desativados e at ferramentas perdidas por astronautas. Com um trfego celeste to intenso, era questo de tempo para que acontecesse um acidente de grandes propores, como o da semana passada. Na tera-feira, dois satlites em rbita desde os anos 90 colidiram em um ponto 790 quilmetros acima da Sibria. A trombada dos satlites chama a ateno para os riscos que oferece a montanha de lixo espacial em rbita. Como os objetos viajam a grande velocidade, mesmo um pequeno fragmento de 10 centmetros poderia causar estragos considerveis no telescpio Hubble ou na estao espacial Internacional nesse caso pondo em risco a vida dos astronautas que l trabalham. Revista Veja.18 set. 2009 (adaptado). Levando-se em considerao os elementos constitutivos de um texto jornalstico, infere-se que o autor teve como objetivo
(ENEM - 2010) A carreira do crime Estudo feito por pesquisadores da Fundao Oswaldo Cruz sobre adolescentes recrutados pelo trfico de drogas nas favelas cariocas expe as bases sociais dessas quadrilhas, contribuindo para explicar as dificuldades que o Estado enfrenta no combate ao crime organizado. O trfico oferece ao jovem de escolaridade precria (nenhum dos entrevistados havia completado o ensino fundamental) um plano de carreira bem estruturado, com salrios que variam de R$ 400,00 a R$ 12.000 mensais. Para uma base de comparao, convm notar que, segundo dados do IBGE de 2001, 59% da populao brasileira com mais de dez anos que declara ter uma atividade remunerada ganha no mximo o piso salarial oferecido pelo crime. Dos traficantes ouvidos pela pesquisa, 25% recebiam mais de R$ 2.000 mensais; j na populao brasileira essa taxa no ultrapassa 6%. Tais rendimentos mostram que as polticas sociais compensatrias, como o Bolsa-Escola (que paga R$ 15 mensais por aluno matriculado), so por si s incapazes de impedir que o narcotrfico continue aliciando crianas provenientes de estratos de baixa renda: tais polticas aliviam um pouco o oramento familiar e incentivam os pais a manterem os filhos estudando, o que de modo algum impossibilita a opo pela delinquncia. No mesmo sentido, os programas voltados aos jovens vulnerveis ao crime organizado (circo-escola, oficinas de cultura, escolinhas de futebol) so importantes, mas no resolvem o problema. A nica maneira de reduzir a atrao exercida pelo trfico a represso, que aumenta os riscos para os que escolhem esse caminho. Os rendimentos pagos aos adolescentes provam isso: eles so elevados precisamente porque a possibilidade de ser preso no desprezvel. preciso que o Executivo federal e os estaduais desmontem as organizaes paralelas erguidas pelas quadrilhas, para que a certeza de punio elimine o fascnio dos salrios do crime. Editorial.Folha de São Paulo.15 jan. 2003. No Editorial, o autor defende a tese de que as políticas sociais que procuram evitar a entrada dos jovens no trfico no tero chance de sucesso enquanto a remunerao oferecida pelos traficantes for to mais compensatória que aquela oferecida pelos programas do governo. Para comprovar sua tese, o autor apresenta
(ENEM - 2010) A carreira do crime Estudo feito por pesquisadores da Fundao Oswaldo Cruz sobre adolescentes recrutados pelo trfico de drogas nas favelas cariocas expe as bases sociais dessas quadrilhas, contribuindo para explicar as dificuldades que o Estado enfrenta no combate ao crime organizado. O trfico oferece ao jovem de escolaridade precria (nenhum dos entrevistados havia completado o ensino fundamental) um plano de carreira bem estruturado, com salrios que variam de R$ 400,00 a R$ 12.000 mensais. Para uma base de comparao, convm notar que, segundo dados do IBGE de 2001, 59% da populao brasileira com mais de dez anos que declara ter uma atividade remunerada ganha no mximo o piso salarial oferecido pelo crime. Dos traficantes ouvidos pela pesquisa, 25% recebiam mais de R$ 2.000 mensais; j na populao brasileira essa taxa no ultrapassa 6%. Tais rendimentos mostram que as polticas sociais compensatrias, como o Bolsa-Escola (que paga R$ 15 mensais por aluno matriculado), so por si s incapazes de impedir que o narcotrfico continue aliciando crianas provenientes de estratos de baixa renda: tais polticas aliviam um pouco o oramento familiar e incentivam os pais a manterem os filhos estudando, o que de modo algum impossibilita a opo pela deliquncia. No mesmo sentido, os programas voltados aos jovens vulnerveis ao crime organizado (circo-escola, oficinas de cultura, escolinhas de futebol) so importantes, mas no resolvem o problema. A nica maneira de reduzir a atrao exercida pelo trfico a represso, que aumenta os riscos para os que escolhem esse caminho. Os rendimentos pagos aos adolescentes provam isso: eles so elevados precisamente porque a possibilidade de ser preso no desprezvel. preciso que o Executivo federal e os estaduais desmontem as organizaes paralelas erguidas pelas quadrilhas, para que a certeza de punio elimine o fascnio dos salrios do crime. Editorial.Folha de São Paulo.15 jan. 2003. Com base nos argumentos do autor, o texto aponta para
(ENEM - 2010) Venho solicitar a clarividente ateno de Vossa Excelncia para que seja conjurada uma calamidade que est prestes a desabar em cima da juventude feminina do Brasil. Refiro-me, senhor presidente, ao movimento entusiasta que est empolgando centenas de moas, atraindo-as para se transformarem em jogadoras de futebol, sem se levar em conta que a mulher no poder praticar este esporte violento sem afetar, seriamente, o equilbrio fisiolgicos de suas funes orgnicas, devido natureza que disps a ser me, Ao que dizem os jornais, no Rio de Janeiro, j esto formados nada menos de dez quadros femininos. Em So Paulo e Belo Horizonte tambm j esto se constituindo outros. E, neste crescendo, dentro de um ano, provvel que em todo o Brasil estejam organizados uns 200 clubes femininos de futebol: ou seja: 200 ncleos destroados da sade de 2,2 mil futuras mes, que, alm do mais, ficaro presas a uma mentalidade depressiva e propensa aos exibicionismos rudes e extravagantes. Coluna Pnalti.Carta Capital.28 abr. 2010. O trecho é parte de uma carta de um cidadão brasileiro, José Fuzeira, encaminhada, em abril de 1940, ao então presidente da República Getúlio Vargas. As opções linguísticas de Fuzueira mostram que seu texto foi elaborado em linguagem
(ENEM - 2010) Negrinha Negrinha era uma pobre rf de sete anos. Preta? No; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruos e olhos assustados. Nascera na senzala, de me escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa no gostava de crianas. Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no cu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balano na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigrio, dando audincias, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma dama de grandes virtudes apostlicas, esteio da religio e da moral, dizia o reverendo. tima, a dona Incia. Mas no admitia choro de criana. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. [...] A excelente dona Incia era mestra na arte de judiar de crianas. Vinha da escravido, fora senhora de escravos e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo essa indecncia de negro igual. LOBATO, M. Negrinha. In: MORICONE, I.Os cem melhores contos brasileiros do século.Rio de Janeiro: Objetiva, 2000 (fragmento). A narrativa focaliza um momento histórico-social de valores contraditórios. Essa contradição infere-se, no contexto, pela