Questões de Português - ENEM | Gabarito e resoluções

(ENEM - 2022) Firmo, o vaqueiro No dia seguinte, hora em que saa o gado, estava eu debruado varanda quando vi o cafuzo que preparava o animal viajeiro: Raimundinho, como vai ele? De longe apontou a palhoa. Sim. O brao caiu-lhe, olhou-me algum tempo comovido; depois, saltando para o animal, levou o polegar boca fazendo estalar a unha nos dentes: s quatro da manh Atirei um verso e disse, para bulir com ele: Pega, velho! No respondeu. Tio Firmo, mesmo velho e doente, no era homem para deixar um verso no cho Fui ver, coitado! estava morto. E deu de esporas para que eu no lhe visse as lgrimas. NETTO, C. In: MARCHEZAN, L. G. (Org.). O conto regionalista.So Paulo: Martins Fontes, 2009. A passagem registra um momento em que a expressividade lrica reforada pela

(ENEM - 2022) O beb de tarlatana rosa [] Na tera desliguei-me do grupo e ca no mar alto da depravao, s, com uma roupa leve por cima da pele e todos os maus instintos fustigados. De resto a cidade inteira estava assim. o momento em que por trs das mscaras as meninas confessam paixes aos rapazes, o instante em que as ligaes mais secretas transparecem, em que a virgindade dbia e todos ns a achamos intil, a honra uma caceteao, o bom senso uma fadiga. Nesse momento tudo possvel, os maiores absurdos, os maiores crimes; nesse momento h um riso que galvaniza os sentidos e o beijo se desata naturalmente. Eu estava trepidante, com uma nsia de acanalhar-me, quase mrbida. Nada de raparigas do galarim perfumadas e por demais conhecidas, nada do contato familiar, mas o deboche annimo, o deboche ritual de chegar, pegar, acabar, continuar. Era ignbil. Felizmente muita gente sofre do mesmo mal no carnaval. RIO, J.Dentro da noite. So Paulo: Antqua, 2002. No texto, o personagem vincula ao carnaval atitudes e reaes coletivas diante das quais expressa

(ENEM - 2022) 10 de maio Fui na delegacia e falei com o tenente. Que homem amavel! Se eu soubesse que ele era to amavel, eu teria ido na delegacia na primeira intimao. [] O tenente interessou-se pela educao dos meus filhos. Disse-me que a favela um ambiente propenso, que as pessoas tem mais possibilidade de delinquir do que tornar-se util a patria e ao pas. Pensei: se ele sabe disto, porque no faz um relatorio e envia para os politicos? O Senhor Janio Quadros, o Kubstchek, e o Dr. Adhemar de Barros? Agora falar para mim, que sou uma pobre lixeira. No posso resolver nem as minhas dificuldades. O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que j passou fome. A fome tambem professora. Quem passa fome aprende a pensar no prximo, e nas crianas. JESUS, C. M.Quarto de despejo: dirio de uma favelada. So Paulo: tica, 2014. A partir da intimao recebida pelo filho de 9 anos, a autora faz uma reflexo em que transparece a

(ENEM - 2022) Vanda vinha do interior de Minas Gerais e de dentro de um livro de Charles Dickens. Sem dinheiro para cri-la, sua me a dera, com seus sete anos, a uma conhecida. Ao receb-la, a mulher perguntou o que a garotinha gostava de comer. Anotou tudo num papel. Mal a me virou as costas, no entanto, a fulana amassou a lista e, como uma vil de folhetim, decretou: A partir de hoje, voc no vai mais nem sentir o cheiro dessas comidas!.Vanda trabalhou l at os quinze anos, quando recebeu a carta de uma prima com uma nota de cem cruzeiros, saiu de casa com a roupa do corpo e fugiu num nibus para So Paulo. Todas as vezes que eu e minha irm a importunvamos com nossas demandas de criana mimada, ela nos contava histrias da infncia de gata-borralheira, fazia-nos apertar seu nariz quebrado por uma das filhas da patroa com um rolo de amassar po e nos expulsava da cozinha: Sai pra l, peste, e me deixa acabar essa janta. PRATA, A.Nu de botas. So Paulo: Cia. das Letras, 2013 (adaptado). Pela tica do narrador, a trajetria da empregada de sua casa assume um efeito expressivo decorrente

(ENEM - 2022) SILVEIRA, R.In absentia, 1983. Instalao, 17 Bienal de So Paulo. Disponvel em: www.bienal.org.br. Acesso em: set. 2016 (adaptado). O termo ready-made foi criado por Marcel Duchamp(1887-1968) para designar um tipo de objeto, por eleinventado, que consiste em um ou mais artigos de uso cotidiano, produzidos em massa, selecionados semcritrios estticos e expostos como obras de arte emespaos especializados (museus e galerias). Seu primeiro ready-made, de 1912, uma roda de bicicleta montadasobre um banquinho (Roda de bicicleta). Ao transformarqualquer objeto em obra de arte, o artista realiza uma crtica radical ao sistema da arte. Disponvel em: www.bienal.org.br. Acesso em: 1 set. 2016 (adaptado) A instalaoIn absentiaprope um dilogo com oready-made Roda de bicicleta, demonstrando que

(ENEM - 2022) O Recife fervilhava no comeo da dcada de 1990, eos artistas trabalhavam para resgatar o prestgio da culturapernambucana. Era preciso se inspirar, literalmente, nasrazes sobre as quais a cidade se construiu. Foi a que, em 1992, com a publicao de um manifesto escrito pelomsico e jornalista Fred Zero Quatro, da banda MundoLivre S/A, nasceu o manguebeat. O nome vem demangue, vegetao tpica da regio, e beat, pararepresentar as batidas e as influncias musicais que omovimento abraaria a partir dali. Era a hora e a vez de oscaranguejos aos quais os msicos recifenses gostavamde se comparar mostrarem as caras: o maracatu e suasalfaias se misturaram com as batidas do hip-hop, asguitarras do rock, elementos eletrnicos e o sotaque recifense de Chico Science. A busca pelo novo rendeu umaperspectiva diferente do Brasil ao olhar para o Recife. Acidade deixou de ser o lugar apenas do frevo e do carnaval,transformando-se na ebulio musical que continua aacontecer mesmo aps os 25 anos do lanamento doprimeiro disco da Nao Zumbi, Da lama ao caos. FORCIONI, G. et al. O mangue est de volta.Revista Esquinas, n. 87, set 2019 (adaptado). Chico Science foi fundamental para a renovao damsica pernambucana, fato que se deu pela

(ENEM - 2022) Espera, resignado, o dia 13 daquele ms porque, em taldata, usana avoenga lhe faculta sondar o futuro,interrogando a providncia. a experincia tradicionalde Santa Luzia. No dia 12 ao anoitecer expe ao relento,em linha, seis pedrinhas de sal, que representam, emordem sucessiva da esquerda para a direita, os seis mesesvindouros, de janeiro a junho. Ao alvorecer de 13observa-as: se esto intactas, pressagiam a seca; se aprimeira apenas se deliu, transmudada em aljfar lmpido, certa a chuva em janeiro; se a segunda, em fevereiro; sea maioria ou todas, inevitvel O inverno benfazejo. Estaexperincia belssima. CUNHA, E.Os sertes. So Paulo: Editora Trs, 1984. No experimento descrito, a relao com a paisagem e coma religiosidade permite que o sertanejo seja

(ENEM - 2021) O documentrio O menino que fez um museu, direo de Srgio Utsch, produo independente de brasileiros e britnicos, gravado no Nordeste em 2016, mais precisamente no distrito Dom Quintino, zona rural do Crato foi premiado em Londres, pela Foreign Press Association (FPA), a associao de correspondentes estrangeiros mais antiga do mundo, fundada em 1888. De acordo com o diretor, O menino que fez um museu foi o nico trabalho produzido por equipes fora do eixo Estados Unidos-Europa entre os finalistas. O documentrio conta a histria de um Brasil profundo, desconhecido at mesmo por muitos brasileiros. apresentado com o carisma de Pedro Lucas Feitosa, 11 anos. Quando tinha 10 anos, Pedro Lucas criou o Museu de Luiz Gonzaga, que fica no distrito de Dom Quintino. A ideia surgiu aps uma visita que o garoto fez, em 2013, quando tinha 8 anos, ao Museu do Gonzago, em Exu, Pernambuco. Pedro decidiu criar o prprio lugar de exposio para homenagear o rei e o local escolhido foi a casa da sua bisav j falecida, que fica ao lado da casa dele, na rua Alto de Antena. Disponvel em www.opovo.com.br. Acesso em 18 abr. 2016 No segundo pargrafo, uma citao afirma que o documentrio foi o nico trabalho produzido por equipes fora do eixo Estados Unidos-Europa entre os finalistas. No texto, esse recurso expressa uma estratgia argumentativa que refora a

(ENEM - 2021) A volta do marido prdigo Bom dia, seu Marrinha! Como passou de ontem? Bem. J sabe, no ? S ganha meio dia. [...] L alm, Generoso cotuca Tercino: [...] Vai em festa, dorme que-horas, e, quando chega, ainda todo enfeitado e salamistro!... Que que hei de fazer, seu Marrinha... Amanheci com uma nevralgia... Fiquei com cisma de apanhar friagem... Hum... Mas o senhor vai ver como eu toco o meu servio e ainda fao este povo trabalhar... [...] Pinto suou para desprender um pedrouo, e teve de pular para trs, para que a laje lhe no esmagasse um p. Pragueja: Quem no tem brio engorda! ... Esse sujeito s isso, e mais isso... opina Sidu. Tambm, tudo pra ele sai bom, e no fim d certo... diz Correira, suspirando e retomando o enxado Pra uns, as vacas morrem ... pra outros at boi pega a parir... Seu Marra j concordou: Est bem, seu Laio, por hoje, como foi por doena, eu aponto o dia todo. Que a ltima vez!... E agora, deixa de conversa fiada e vai pegando a ferramenta! ROSA, J.G.Sagarana.Rio de Janeiro, Jos Oympia, 1987. Esse texto tem importncia singular como patrimnio lingustico para a preservao da cultura nacional devido

(ENEM - 2021) Disponvel em: https.//g1.globo.com. Acesso em: 18 jun. 2019 (Adaptado) No texto, os recursos verbais e no verbais empregados tm por objetivo

(ENEM - 2021) Singular ocorrncia H ocorrncias bem singulares. Est vendo aquela dama que vai entrando na igreja da Cruz? Parou agora no adro para dar uma esmola. De preto? Justamente, l vai entrando; entrou. No ponha mais na carta. Esse olhar est dizendo que a dama uma recordao de outro tempo, e no h de ser muito tempo, a julgar pelo corpo: moa de truz. Deve ter quarenta e seis anos: Ah! conservada. Vamos l; deixe de olhar para o cho e conte-me tudo. Est viva, naturalmente? No Bem; o marido ainda vive. velho? No casada. Solteira? Assim, assim. Deve chamar-se hoje D. Maria de tal. Em 1860 florescia com o nome familiar de Marocas. No era costureira, nem proprietria, nem mestra de meninas, v excluindo as profisses e chegar l. Morava na Rua do Sacramento. J ento era esbelta, e, seguramente, mais linda do que hoje;modos srios, linguagem limpa. ASSIS. M.Machado de Assis:seus 30 melhores contos. Rio de Janeiro: Aguiar, 1961. No dilogo, descortinam-se aspectos da condio da mulher em meados do sculo XIX. O ponto de vista dos personagens manifesta conceitos segundo os quais a mulher

(ENEM - 2021) Que tal transformar a internet em palco para a dana? O coregrado e bailarino Didier Mulleras se destaca como um dos criadores que descobriram a dana de outro ponto de vista. Mini@tures uma experincia emblemtica entre movimento, computador, internet e vdeo. Com os recursos da computao grfica, a dana das miniaturas pode caber na palma da mo. Pelo fato de usar a internet como palco, o processo de criao das miniaturas de dana levou em considerao os limites de tempo de download e o tamanho de arquivo, para que um nmero maior de espectadores pudesse assistir. A graa das miniaturas est justamente na contaminao entre mdias: corpo/dana/computao grfica/internet. De fato, a rede que faz a maior diferena nesse grupo. Mini@tures explora uma nova dimenso que descobre o espao-tempo da web e conquista um novo territrio para a dana contempornea. A qualquer hora, dana on-line. SPANGHERO. M.A dana dos encfalos acesos.So Paulo. Ita Cultural, 2003. (adaptado) Considerado o primeiro projeto de dana contempornea concebido para a rede, esse trabalho apresentado como inovador por

(ENEM - 2021) TEXTO I O mito da estiagem em So Paulo Os estoques de gua doce so inesgotveis, na medida em que so alimentados principalmente pelos oceanos, infinitos via evaporao e precipitao, ou seja, pelo ciclo hidrolgico, que depende de foras fsicas as quais o homem nunca poder interromper. Enquanto existirem, o ciclo funcionar e os estoques de gua doce nos continentes sero repostos indefinidamente. Obviamente que a gua no se distribui equitativamente pelo planeta. H regies com muita gua, normalmente na zona tropical, na qual a evaporao maior, e regies ridas, onde, por razes especficas da dinmica climtica, as taxas de evaporao so maiores do que a precipitao, gerando dficit de reposio de estoques de gua doce. Disponvel em: www.cartanaescola.com.br. Acesso em: 17 Jan. 2015 (adaptado). TEXTO II O processo de sedimentao no fundo do lago de um reservatrio um processo lento. Os sedimentos vo formando argila, que uma rocha impermevel. Ento, a gua daquele lago no vai alimentar os aquferos. Mesmo tendo muita quantidade de gua superficial, ela no consegue penetrar no solo para alimentar os aquferos. Se no for usada no consumo, ela vai simplesmente evaporar e cair em outro lugar, levada pelas correntes areas. Isso outro motivo pelo qual os aquferos no conseguem recuperar seu nvel, porque no recebem gua. Disponvel em: www.jornalopcao.com.br Acesso em: 17 Jan. 2015 (adaptado). Os textos I e II abordam a situao dos reservatrios de gua doce do planeta. Entretanto, a divergncia entre eles est na ideia de que possvel

(ENEM - 2021) Os velhos papis, quando no so consumidos pelo fogo, s vezes acordam de seu sono para contar notcias do passado. assim que se descobre algo novo de um nome antigo, sobre o qual j se julgava saber tudo, como Machado de Assis. Por exemplo, voc provavelmente no sabe que o autor carioca, morto em 1908, escreveu uma letra do hino nacional em 1867 e no poderia saber mesmo, porque os versos seguiam inditos. At hoje. Essa letra acaba de ser descoberta, em um jornal antigo de Florianpolis, pelo pesquisador independente Felipe Rissato. Das florestas em que habito/ Solto um canto varonil:/ Em honra e glria de Pedro/ O gigante do Brasil, diz o comeo do hino, composto de sete estrofes em redondilhas maiores, ou seja, versos de sete slabas poticas. O trecho tambm o refro da msica. O Pedro mencionado o imperador Dom Pedro II. O bruxo do Cosme Velho comps a letra para o aniversrio de 42 anos do monarca, em 2 de dezembro daquele ano o hino seria apresentado naquele dia no teatro da cidade de Desterro, antigo nome de Florianpolis. Disponvel em: www.revistaprosaversoarte.com. Acesso em 4 dez. 2018 (adaptado) Considerando-se as operaes de retomada de informaes na estruturao do texto, h interdependncia entre as expresses

(ENEM - 2021) RODRIGUES, S.Acervo Pessoal. A revoluo esttica brasiliense os designers de mveis dos anos 1950 e incio dos 1960 para o novo. Induzidos a abandonar o gosto rebuscado pelo colonial, a trocar Ouro Preto por Braslia, eles criaram um mobilirio contemporneo que ainda hoje vemos nas lojas e nas salas de espera de consultrios e escritrios. Colada no uso de madeiras nobres, como o jacarand e a peroba, e em materiais de revestimento como o couro e a palhinha, desenvolveu-se uma tendncia feita de linhas retas e curvas suaves, nos moldes da capital no Cerrado. CHAVES, D. Disponvel em: www.veja.abril.com.br. Acesso em: 29 jul. 2010. Na reportagem sobre os 50 anos de Braslia, de Dbora Chaves, com a reproduo fotogrfica de cadeiras e poltronas de Srgio Rodrigues, verifica-se que os elementos de esttica brasiliense