(ENEM - 2021) Seus primeiros anos de detendo foram difceis; aos poucos entendeu como o sistema funciona. Apanhou dezenas de vezes, teve o crnio esmagado, o maxilar deslocado, braos e pernas quebrados; por fim, um dia ficou lesionado da perna quando foi jogado da laje de um pavilho. Nem todas as vezes ele soube por que apanhou, muito menos da ltima, quando foi deixado para morrer, mas sobreviveu. Seu corpo, modo no inferno, aguarda o fim dos seus dias. J no questiona mais. Obedece. Cumpre as ordens. Baixa a cabea e se retira. Apanha, s vezes com motivo, s vezes sem. Por onde passou, derramaram seu sangue. Seu rastro pode ser seguido. Intriga ter sobrevivido durante tantos anos.Pouqussimos chegaram terceira idade encarcerados. MAIA, A. P. Assim na terra como embaixo da terra. Rio de Janeiro:Record, 2017. A narrativa concentra sua fora expressiva no manejo de recursos formais e numa representao ficcional que
(ENEM - 2021) O senhor pensa que s porque o deixaram morar neste pas pode logo ir fazendo o que quer? Nunca ouviu falar num troo chamado autoridades constitudas? No sabe que tem de conhecer as leis do pas? No sabe que existe uma coisa chamada Exrcito Brasileiro, que o senhor tem de respeitar? Que negcio esse? [...] Eu ensino o senhor a cumprir a lei, ali no duro: dura lex! Seus filhos so uns moleques e outra vez que eu souber que andaram incomodando o General, vai tudo em cana. Morou? Sei como tratar gringos feito o senhor. [...] Foi ento que a mulher do vizinho do General interveio: Era tudo que o senhor tinha a dizer a meu marido? O delegado apenas olhou-a, espantado com o atrevimento. Pois ento fique sabendo que eu tambm sei tratar tipos como o senhor. Meu marido no gringo nem meus filhos so moleques. Se por acaso importunaram o General, ele que viesse falar comigo, pois o senhor tambm est nos importunando. E fique sabendo que sou brasileira, sou prima de um Major do Exrcito, sobrinha de um Coronel, e filha de um General! Morou? Estarrecido, o delegado s teve fora para engolir em seco e balbuciar humildemente: Da ativa, minha senhora? SABINO, F. A mulher do vizinho. In: Os melhores contos. Rio de Janeiro: Record, 1986. A representao do discurso intimidador engendrada no fragmento responsvel por
(ENEM - 2021) Disponvel em: www.deskgram.org. Acesso em: 12 dez. 2018 (adaptado). A associao entre o texto verbal e as imagens da garrafa e do co configura recurso expressivo que busca
(ENEM - 2021) HENFIL. Disponvel em: https://medium.com. Acesso em: 29 out. 2018 (adaptrado). Nessa tirinha, produzida na dcada de 1970, os recursos verbais e no verbais sinalizam a finalidade de
(ENEM - 2021) A crise dos refugiados imortalizada para sempre no fundo do mar TAYLOR J.C.A balsa de Lampedusa.Instalao Musei Atlntico. Lanzarote, Canrias, 2016 (detalhe) A balsa de Lampedusa, nome da obra de Taylor, que abre este post, uma das instalaes criadas por ele para compor o acervo do primeiro museu submarino da Europa, o Museu Atlntico, localizado em Lanzarote, uma das ilhas do arquiplago das Canrias. Lampedusa o nome da ilha italiana onde a grande maioria dos refugiados que saem da frica ou de pases como Sria, Lbano e Iraque, tenta chegar para conseguir asilo no continente europeu. As esculturas do Museu Atlntico ficam a 14 metros de profundidade, nas guas cristalinas de Lanzarote Na balsa, esto dez pessoas. Todas tm no rosto a expresso do abandono. Entre elas, h algumas crianas. Uma delas, uma menina debruada sobre a beira do bote, olha sem esperana o horizonte. A imagem to forte, que dispensa qualquer palavra. Exatamente o papel da arte. Disponvel em https://conexaoplaneta.com.br/. Acesso em 22 jun, 2019 (adaptado) Alm de apresentar ao pblico a obra A balsa de Lampedusa, essa reportagem cumpre, paralelamente, a funo de chamar a ateno para
(ENEM - 2021) Intenso e original, Son of Saul retrata horror do holocausto Centenas de filmes sobre o holocausto j foram produzidos em diversos pases do mundo, mas nenhum to intenso como o hngaro Son of Saul, do estreante em longa-metragens Lszl Nemes, vencedor do Grande Prmio do Jri no ltimo Festival de Cannes. Ao contrrio da grande maioria das produes do gnero, que costuma oferecer uma variedade de informaes didticas e no raro cruza diferentes pontos de vista sobre o horror do campo de concentrao, o filme acompanha apenas um personagem. Ele Saul (Gza Rhrig), um dos encarregados de conduzir as execues de judeus como ele que, por um dia e meio, luta obssessivamente para que um menino j morto que pode ou no ser seu filho tenha um enterro digno e no seja simplesmente incinerado. O acompanhamento da jornada desse prisioneiro no sentido mais literal que o cinema pode proporcionar: a cmera est o tempo todo com o personagem, seja por sobre seus ombros, seja com um closeem primeiro plano ou em sua viso subjetiva. O que se passa ao seu redor secundrio, muitas vezes desfocado. Saul percorre diferentes divises de Auschwitz procura de um rabino que possa conduzir o enterro da criana, e por isso pouco se envolve nos planos de fuga que os companheiros tramam e, quando o faz, geralmente atrapalha. Voc abandonou os vivos para cuidar de um morto, acursa um deles. Ver toda essavia crucis por vezes duro e exige certa entrega do espectador, mas certamente daquelas experincias cinematogrficas que permanecem na cabea por muito tempo. O longa j est sendo apontado como o grande favorito ao Oscar de filme estrangeiro. Se levar a estatueta, certamente no faltar quem diga que a Academia tem uma preferncia por que aborda a 2 Guerra. Por mais que exista uma dose de verdade na afirmao, premiar uma abordagem to ousada e radical como Son of Saul no deixaria de ser um passo frente dos volantes. Carta Capital,n 873, 22out 2015. A resenha , normalmente, um texto de base argumentativa. Na resenha do filme Son of Saul, o trecho da sequncia argumentativa que se constitui como opinio implcita
(ENEM - 2021) Sinh Se a dona se banhou Eu no estava l Por Deus Nosso Senhor Eu no olhei Sinh Estava l na roa Sou de olhar ningum No tenho mais cobia Nem exergo bem Para que me pr no tronco Para que me aleijar Eu juro a vosmec Que nunca vi Sinh [...] Por que talhar meu corpo Eu no olhei Sinh Para que vosminc Meus olhos furar Eu choro em iorub Mas oro por Jesus Para que que vassunc Me tira a luz. CHICO BUARQUE; JOO BOSCO. Chico. Rio de Janeiro: Biscoito Fino, 2011 (fragmento). No fragmento da letra da cano, o vocabulrio empregado e a situao retratada so relevantes para o patrimnio lingustico e identitrio do pas, na medida em que
(ENEM - 2021) O skate apareceu como forma de vivncia no lazer em perodos de baixa nas ondas e ficou conhecido como surfinho. No incio foram utilizados eixos e rodinhas de patins pregados numa madeira qualquer, paraa sua composio, sendo as rodas de borracha ou ferro. O grande marco na histria do skate ocorreu em 1974, quando o engenheiro qumico chamado Frank Nasworthy descobriu o uretano, material mais flexvel, que oferecia mais aderncia s rodas. A dependncia dos skatistas em relao a esse novo material igualmente alavancou o surgimento de novas manobras e possibilitou a um maior nmero de pessoas inexperientes comear a prtica dessa modalidade. O resultado foi a criao de campeonatos, marcas, fbricas e lojas especializadas. ARMBRUST, I.; LAURO, F. A. A. O skate e suas possibilidades educacionais. Motriz, jul.-set. 2010 (adaptado). De acordo com o texto, diversos fatores ao longo do tempo
(ENEM - 2021) Estojo escolar Rio de Janeiro - Noite dessas, ciscando num desses canais a cabo, vi uns caras oferecendo maravilhas eletrnicas, bastava telefonar e eu receberia um notebook capaz de me ajudar a fabricar um navio, uma estao espacial. [...] Como pretendo viajar esses dias, habilitei-me a comprar aquilo que os caras anunciavam como o top do top em matria de computador porttil. No sbado, recebi um embrulho complicado que necessitava de um manualde instrues para ser aberto. [...] De repente, como vem acontecendo nos ltimos tempos, houve um corte na memria e vi diante de mi o meu primeiro estojo escolar. Tinha 5 anos e ia para o jardim de infncia. Era uma caixinha comprida, envernizada, com uma tampa que corria nas bordas do corpo principal. Dentro, arrumados em divises, havia lpis coloridos, um apontador, uma lapiseira cromada, uma rgua de 20cm e uma borracha para apagar meus erros. [...] Da caixinha vinha um cheiro gostoso, cheiro que nunca esqueci e que me tonteava de prazer. [...] O notebook que agora abro negro e, em matria de cheiro, abominvel. Cheira vilmente a telefone celular, a cabine de avio, a aparelho de ultrassonografia onde outro dia uma moa veio ver como sou por dentro. Acho que piorei de estojo e de vida. CONY, C. H.Crnicas para ler na escola.So Paulo: Objetiva, 2009 (adaptado). No texto, h marcas da funo da linguagem que nele predomina. Essas marcas so responsveis por colocar em foco o(a)
(ENEM - 2021) LEMOS, A.Artistas brasileiras.Belo Horizonte, Miguilim, 2018. O que assegura o reconhecimento desse texto em quadrinhos como prefcio o (a)
(ENEM - 2021) TEXTO I HAZOUM, R.Nanawax.Plstico e tecido. Galerie Gagosian, 2009. Disponvel em: www.actuart.org. Acesso em 19 jun. 2019 TEXTO II As mscaras no foram feitas para serem usadas; elas se concentram apenas nas possibilidades antropomrficas dos recipientes plsticos descartados e, ao mesmo tempo, chamam a ateno para a quantidade de lixo que se acumula em quase todas as cidades ou aldeias africanas. FARTHING, S.Tudo sobre arte.Rio de Janeiro: Sextante; 2011 (adaptado) Romualdo Hazoum costuma dizer que sua obra apenas manda de volta ao oeste o refugo de uma sociedade de consumo cada vez mais invasiva. A obra desse artista africano que vive no Benin denota o (a)
(ENEM - 2021) Comportamento geral Voc deve estampar sempre um ar de alegria E dizer: tudo tem melhorado Voc deve rezar pelo bem do patro E esquecer que est desempregado Voc merece Voc merece Tudo vai bem, tudo legal Cerveja, samba, e amanh, seu Z Se acabarem com teu carnaval Voc deve aprender a baixar a cabea E dizer sempre: muito obrigado So palavras que ainda te deixam dizer Por ser homem bem disciplinado Deve pois s fazer pelo bem da nao Tudo aquilo que for ordenado Pra ganhar um fusco no juzo final E diploma de bem-comportado GONZAGUINHA. Luiz Gonzaga Jr. Rio de Janeiro: Odeon; 1973 (fragmento) Pela anlise do tema e dos procedimentos argumentativos utilizados na letra da cano composta por Gonzaguinha na dcada de 1970, infere-se o objetivo de
(ENEM - 2021) Se for possvel, manda-me dizer: lua cheia. A casa est vazia Manda-me dizer, e o paraso H de ficar mais perto, e mais recente Me h de parecer teu rosto incerto. Manda-me buscar se tens o dia To longo como a noite. Se verdade Que sem mim s vs monotonia. E se te lembras do brilho das mars De alguns peixes rosados Numas guas E dos meus ps molhados, manda-me dizer: lua nova E revestida de luz te volto a ver. HILST, H.Jbilo, memria, noviciado da paixo.So Paulo: Cia das Letras, 2018. Falando ao outro, o eu lrico revela-se vocalizando um desejo que remete ao
(ENEM - 2021) Falso moralista Voc condena o que a moada anda fazendo e no aceita o teatro de revista arte moderna pra voc no vale nada e at vedete voc diz no ser artista Voc se julga um tanto bom e at perfeito Por qualquer coisa deita logo falao Mas eu conheo bem o seu defeito e no vou fazer segredo no Voc visto toda sexta no Jo e no s no Carnaval que vai pros bailes se acabar Fim de semana voc deixa a companheira e no bar com os amigos bebe bem a noite inteira Segunda-feira chega na repartio pede dispensa para ir ao oculista E vai curar sua ressaca simplesmente Voc no passa de um falso moralista NELSON SARGENTO.Sonho de um sambista.So Paulo: Eldorado, 1979. As letras de samba normalmente se caracterizam por apresentarem marcas informais do uso da lngua. Nessa letra de Nelson Sargento, so exemplos dessas marcas
(ENEM - 2021) Introduo a Alda Dizem que ningum mais a ama. Dizem que foi uma boa pessoa. Sua filha de doze anos no a visita nunca e talvez raramente se lembre dela. Puseram-na numa cidade triste de uniformes azuis e jalecos brancos, de onde no pde mais sair. L, todos gritam-lhe irritados, mal se aproxima, ou lhe batem, como se faz com sacos de areia para treinar os msculos. Sei que para todos ela j no , ningum lhe daria uma maa cheirosa, bem vermelha. Mas no verdade que algum no a possa mais amar. Eu amo-a. Amo-a quando a vejo por trs das grades de um palcio, onde se refugiou princesa, chegada pelos caminhos da dor. Quando fora do reino sente o mundo de mil lanas, e selvagem prepara-se, posta no olhar. Amo-a quando criana brinca na areia sem medo. Uns ps descalos, uma mulher sem intenes. Cercada de mundo, s vezes sofrendo-o ainda. CANADO, M. L.O sofredor do ver.Belo Horizonte: Autntica, 2015. Ao descrever uma mulher internada em um hospital psiquitrico, o narrador compe um quadro que expressa sua percepo