(UNESP - 2019 - 1 FASE) Leia o trecho do livro A dana do universo, do fsico brasileiro Marcelo Gleiser, para responder questo: Algumas pessoas tornam-se heris contra sua prpria vontade. Mesmo que elas tenham ideias realmente (ou potencialmente) revolucionrias, muitas vezes no as reconhecem como tais, ou no acreditam no seu prprio potencial. Divididas entre enfrentar sua insegurana expondo suas ideias opinio dos outros, ou manter-se na defensiva, elas preferem a segunda opo. O mundo est cheio de poemas e teorias escondidos no poro. Coprnico , talvez, o mais famoso desses relutantes heris da histria da cincia. Ele foi o homem que colocou o Sol de volta no centro do Universo, ao mesmo tempo fazendo de tudo para que suas ideias no fossem difundidas, possivelmente com medo de crticas ou perseguio religiosa. Foi quem colocou o Sol de volta no centro do Universo, motivado por razes erradas. Insatisfeito com a falha do modelo de Ptolomeu, que aplicava o dogma platnico do movimento circular uniforme aos corpos celestes, Coprnico props que o equante fosse abandonado e que o Sol passasse a ocupar o centro do cosmo. Ao tentar fazer com que o Universo se adaptasse s ideias platnicas, ele retornou aos pitagricos, ressuscitando a doutrina do fogo central, que levou ao modelo heliocntrico de Aristarco dezoito sculos antes. Seu pensamento reflete o desejo de reformular as ideias cosmolgicas de seu tempo apenas para voltar ainda mais no passado; Coprnico era, sem dvida, um revolucionrio conservador. Ele jamais poderia ter imaginado que, ao olhar para o passado, estaria criando uma nova viso csmica, que abriria novas portas para o futuro. Tivesse vivido o suficiente para ver os frutos de suas ideias, Coprnico decerto teria odiado a revoluo que involuntariamente causou. Entre 1510 e 1514, comps um pequeno trabalho resumindo suas ideias, intitulado Commentariolus (Pequeno comentrio). Embora na poca fosse relativamente fcil publicar um manuscrito, Coprnico decidiu no publicar seu texto, enviando apenas algumas cpias para uma audincia seleta. Ele acreditava piamente no ideal pitagrico de discrio; apenas aqueles que eram iniciados nas complicaes da matemtica aplicada astronomia tinham permisso para compartilhar sua sabedoria. Certamente essa posio elitista era muito peculiar, vinda de algum que fora educado durante anos dentro da tradio humanista italiana. Ser que Coprnico estava tentando sentir o clima intelectual da poca, para ter uma ideia do quo perigosas eram suas ideias? Ser que ele no acreditava muito nas suas prprias ideias e, portanto, queria evitar qualquer tipo de crtica? Ou ser que ele estava to imerso nos ideais pitagricos que realmente no tinha o menor interesse em tornar populares suas ideias? As razes que possam justificar a atitude de Coprnico so, at hoje, um ponto de discusso entre os especialistas. (A dana do universo, 2006. Adaptado.) Tivesse vivido o suficiente para ver os frutos de suas ideias, Coprnico decerto teria odiado a revoluo que involuntariamente causou. (3o pargrafo) Em relao ao trecho que o sucede, o trecho sublinhado tem sentido de
(UNESP - 2019 - 1 FASE) Leia o trecho do livro A dana do universo, do fsico brasileiro Marcelo Gleiser, para responder questo. Algumas pessoas tornam-se heris contra sua prpria vontade. Mesmo que elas tenham ideias realmente (ou potencialmente) revolucionrias, muitas vezes no as reconhecem como tais, ou no acreditam no seu prprio potencial. Divididas entre enfrentar sua insegurana expondo suas ideias opinio dos outros, ou manter-se na defensiva, elas preferem a segunda opo. O mundo est cheio de poemas e teorias escondidos no poro. Coprnico , talvez, o mais famoso desses relutantes heris da histria da cincia. Ele foi o homem que colocou o Sol de volta no centro do Universo, ao mesmo tempo fazendo de tudo para que suas ideias no fossem difundidas, possivelmente com medo de crticas ou perseguio religiosa. Foi quem colocou o Sol de volta no centro do Universo, motivado por razes erradas. Insatisfeito com a falha do modelo de Ptolomeu, que aplicava o dogma platnico do movimento circular uniforme aos corpos celestes, Coprnico props que o equante fosse abandonado e que o Sol passasse a ocupar o centro do cosmo. Ao tentar fazer com que o Universo se adaptasse s ideias platnicas, ele retornou aos pitagricos, ressuscitando a doutrina do fogo central, que levou ao modelo heliocntrico de Aristarco dezoito sculos antes. Seu pensamento reflete o desejo de reformular as ideias cosmolgicas de seu tempo apenas para voltar ainda mais no passado; Coprnico era, sem dvida, um revolucionrio conservador. Ele jamais poderia ter imaginado que, ao olhar para o passado, estaria criando uma nova viso csmica, que abriria novas portas para o futuro. Tivesse vivido o suficiente para ver os frutos de suas ideias, Coprnico decerto teria odiado a revoluo que involuntariamente causou. Entre 1510 e 1514, comps um pequeno trabalho resumindo suas ideias, intitulado Commentariolus (Pequeno comentrio). Embora na poca fosse relativamente fcil publicar um manuscrito, Coprnico decidiu no publicar seu texto, enviando apenas algumas cpias para uma audincia seleta. Ele acreditava piamente no ideal pitagrico de discrio; apenas aqueles que eram iniciados nas complicaes da matemtica aplicada astronomia tinham permisso para compartilhar sua sabedoria. Certamente essa posio elitista era muito peculiar, vinda de algum que fora educado durante anos dentro da tradio humanista italiana. Ser que Coprnico estava tentando sentir o clima intelectual da poca, para ter uma ideia do quo perigosas eram suas ideias? Ser que ele no acreditava muito nas suas prprias ideias e, portanto, queria evitar qualquer tipo de crtica? Ou ser que ele estava to imerso nos ideais pitagricos que realmente no tinha o menor interesse em tornar populares suas ideias? As razes que possam justificar a atitude de Coprnico so, at hoje, um ponto de discusso entre os especialistas. (A dana do universo, 2006. Adaptado.) Expressam ideia de repetio e ideia de negao, respectivamente, os prefixos das palavras
(UNESP - 2019 - 1 FASE) Indo s consequncias finais da posio de Jos de Alencar no Romantismo, esse autor adotou como base da sua obra o esforo de escrever numa lngua inspirada pela fala corrente e os modismos populares, no hesitando em usar formas consideradas incorretas, desde que legitimadas pelo uso brasileiro. Com isso, foi o maior demolidor da pureza verncula e do culto da forma. (Antonio Candido. Iniciao literatura brasileira, 2010. Adaptado.) O texto refere-se a
(UNESP - 2019 - 1 FASE) Entre 11 de fevereiro e 03 de junho de 2018, o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA) abrigou a primeira exposio nos Estados Unidos dedicada pintora brasileira Tarsila do Amaral. Leia a apresentao de uma das pinturas expostas para responder a questo. The painting Sleep (1928) is a dreamlike representation of tropical landscape, with this major motif of her repetitive figure that disappears in the background. This painting is an example of Tarsilas venture into surrealism. Elements such as repetition, random association, and dreamlike figures are typical of surrealism that we can see as main elements of this composition. She was never a truly surrealist painter, but she was totally aware of surrealisms legacy. (www.moma.org. Adaptado.) A apresentao refere-se pintura:
(UNESP - 2019 - 1 FASE/Adaptada) Entre 11 de fevereiro e 03 de junho de 2018, o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA) abrigou a primeira exposio nos Estados Unidos dedicada pintora brasileira Tarsila do Amaral. Leia a apresentao de uma das pinturas expostas para responder s questes 19 e 20. The painting Sleep (1928) is a dreamlike representation of tropical landscape, with this major motif of her repetitive figure that disappears in the background. This painting is an example of Tarsilas venture into surrealism. Elements such as repetition, random association, and dreamlike figures are typical of surrealism that we can see as main elements of this composition. She was never a truly surrealist painter, but she was totally aware of surrealisms legacy. (www.moma.org. Adaptado.) A apresentao sublinha a influncia de uma determinada vanguarda europeia sobre a pintura de Tarsila do Amaral. A influncia dessa vanguarda europeia tambm se encontra nos seguintes versos do poeta modernista Murilo Mendes:
(UNESP - 2019 - 2 FASE) Examine a pintura do artista holands Pieter Claesz (1597-1661) e a traduo da expresso latina Memento mori. (Vanitas, 1625. www.franshalsmuseum.nl) Memento mori: Lembra-te de que morrers. (Renzo Tosi (org.).Dicionrio de sentenas latinas e gregas, 2010.) a) Alm da caveira, que outro elemento retratado na pintura de Pieter Claesz alude expresso Memento mori? Justifique sua resposta. b) Tendo em vista o contexto de sua produo, a temtica explorada pela pintura remete mais diretamente a qual escola literria? Justifique sua resposta.
(UNESP - 2019 - 2 FASE) Leia o poema de Manuel Bandeira (1886-1968) para responder a questo. Poema tirado de uma notcia de jornal Joo Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilnia num barraco sem nmero. Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Danou Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. (Libertinagem Estrela da manh, 1993.) a) Cite uma caracterstica distintiva da poesia lrica que no se encontra nesse poema. b) Cite trs elementos que evidenciam o carter narrativo desse poema
(UNESP - 2019 - 2 FASE) Leia o poema de Manuel Bandeira (1886-1968) para responder a questo. Poema tirado de uma notcia de jornal Joo Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilnia num barraco sem nmero. Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Danou Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. (Libertinagem Estrela da manh, 1993.) a) De que modo o fato de morar num barraco sem nmero contribui para a caracterizao de Joo Gostoso? b) Cite dois elementos da linguagem jornalstica presentes no poema
(UNESP - 2019 - 2 FASE) Leia o poema de Manuel Bandeira (1886-1968) para responder a questo. Poema tirado de uma notcia de jornal Joo Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilnia num barraco sem nmero. Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Danou Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. (Libertinagem Estrela da manh, 1993.) a) Em que verso se verifica um desvio em relao norma-padro da lngua escrita (mas recorrente na lngua oral)? Reescreva o verso, corrigindo esse desvio. b) Cite duas caractersticas, uma de natureza temtica e outra de natureza formal, que afastam esse poema da tradio parnasiano-simbolista.
(UNESP - 2019 - 2 FASE) Leia o trecho do ensaio A transitoriedade, de Sigmund Freud (1856-1939), para responder a questo. Algum tempo atrs, fiz um passeio por uma rica paisagem num dia de vero, em companhia de um poeta jovem, mas j famoso. O poeta admirava a beleza do cenrio que nos rodeava, porm no se alegrava com ela. Era incomodado pelo pensamento de que toda aquela beleza estava condenada extino, pois desapareceria no inverno, e assim tambm toda a beleza humana e tudo de belo e nobre que os homens criaram ou poderiam criar. Tudo o mais que, de outro modo, ele teria amado e admirado, lhe parecia despojado de valor pela transitoriedade que era o destino de tudo. Sabemos que tal preocupao com a fragilidade do que belo e perfeito pode dar origem a duas diferentes tendncias na psique. Uma conduz ao doloroso cansao do mundo mostrado pelo jovem poeta; a outra, rebelio contra o fato constatado. No, no possvel que todas essas maravilhas da natureza e da arte, do nosso mundo de sentimentos e do mundo l fora, venham realmente a se desfazer. Seria uma insensatez e uma blasfmia acreditar nisso. Essas coisas tm de poder subsistir de alguma forma, subtradas s influncias destruidoras. Ocorre que essa exigncia de imortalidade to claramente um produto de nossos desejos que no pode reivindicar valor de realidade. Tambm o que doloroso pode ser verdadeiro. Eu no pude me decidir a refutar a transitoriedade universal, nem obter uma exceo para o belo e o perfeito. Mas contestei a viso do poeta pessimista, de que a transitoriedade do belo implica sua desvalorizao. Pelo contrrio, significa maior valorizao! Valor de transitoriedade valor de raridade no tempo. A limitao da possibilidade da fruio aumenta a sua preciosidade. incompreensvel, afirmei, que a ideia da transitoriedade do belo deva perturbar a alegria que ele nos proporciona. Quanto beleza da natureza, ela sempre volta depois que destruda pelo inverno, e esse retorno bem pode ser considerado eterno, em relao ao nosso tempo de vida. Vemos desaparecer a beleza do rosto e do corpo humanos no curso de nossa vida, mas essa brevidade lhes acrescenta mais um encanto. Se existir uma flor que floresa apenas uma noite, ela no nos parecer menos formosa por isso. Tampouco posso compreender por que a beleza e a perfeio de uma obra de arte ou de uma realizao intelectual deveriam ser depreciadas por sua limitao no tempo. Talvez chegue o dia em que os quadros e esttuas que hoje admiramos se reduzam a p, ou que nos suceda uma raa de homens que no mais entenda as obras de nossos poetas e pensadores, ou que sobrevenha uma era geolgica em que os seres vivos deixem de existir sobre a Terra; mas se o valor de tudo quanto belo e perfeito determinado somente por seu significado para a nossa vida emocional, no precisa sobreviver a ela, e portanto independe da durao absoluta. (Introduo ao narcisismo, 2010. Adaptado.) a)Explique sucintamente a diferena entre a viso de Freud e a viso do jovem poeta sobre a transitoriedade do belo. b)Transcreva do segundo pargrafo uma orao em que a ocorrncia de vrgula indica a supresso de um verbo. Identifique o verbo suprimido nessa orao.
(UNESP - 2019 - 2 FASE) Leia o trecho do ensaio A transitoriedade, de Sigmund Freud (1856-1939), para responder a questo. Algum tempo atrs, fiz um passeio por uma rica paisagem num dia de vero, em companhia de um poeta jovem, mas j famoso. O poeta admirava a beleza do cenrio que nos rodeava, porm no se alegrava com ela. Era incomodado pelo pensamento de que toda aquela beleza estava condenada extino, pois desapareceria no inverno, e assim tambm toda a beleza humana e tudo de belo e nobre que os homens criaram ou poderiam criar. Tudo o mais que, de outro modo, ele teria amado e admirado,lheparecia despojado de valor pela transitoriedade que era o destino de tudo. Sabemos que tal preocupao com a fragilidade do que belo e perfeito pode dar origem a duas diferentes tendncias na psique. Uma conduz ao doloroso cansao do mundo mostrado pelo jovem poeta; a outra, rebelio contra o fato constatado. No, no possvel que todas essas maravilhas da natureza e da arte, do nosso mundo de sentimentos e do mundo l fora, venham realmente a se desfazer. Seria uma insensatez e uma blasfmia acreditar nisso. Essas coisas tm de poder subsistir de alguma forma, subtradas s influncias destruidoras. Ocorre que essa exigncia de imortalidade to claramente um produto de nossos desejos que no pode reivindicar valor de realidade. Tambm o que doloroso pode ser verdadeiro. Eu no pude me decidir a refutar a transitoriedade universal, nem obter uma exceo para o belo e o perfeito. Mas contestei a viso do poeta pessimista, de que a transitoriedade do belo implica sua desvalorizao. Pelo contrrio, significa maior valorizao! Valor de transitoriedade valor de raridade no tempo. A limitao da possibilidade da fruio aumenta a sua preciosidade. incompreensvel, afirmei, que a ideia da transitoriedade do belo deva perturbar a alegria que ele nos proporciona. Quanto beleza da natureza, ela sempre volta depois que destruda pelo inverno, e esse retorno bem pode ser considerado eterno, em relao ao nosso tempo de vida. Vemos desaparecer a beleza do rosto e do corpo humanos no curso de nossa vida, mas essa brevidadelhesacrescenta mais um encanto. Se existir uma flor que floresa apenas uma noite, ela no nos parecer menos formosa por isso. Tampouco posso compreender por que a beleza e a perfeio de uma obra de arte ou de uma realizao intelectual deveriam ser depreciadas por sua limitao no tempo. Talvez chegue o dia em que os quadros e esttuas que hoje admiramos se reduzam a p, ou que nos suceda uma raa de homens que no mais entenda as obras de nossos poetas e pensadores, ou que sobrevenha uma era geolgica em que os seres vivos deixem de existir sobre a Terra; mas se o valor de tudo quanto belo e perfeito determinado somente por seu significado para a nossa vida emocional, no precisa sobreviver a ela, e portanto independe da durao absoluta. (Introduo ao narcisismo, 2010. Adaptado.) a)Identifique os referentes dos pronomes sublinhados no primeiro e no quarto pargrafos. b)Reescreva o trecho Era incomodado pelo pensamento de que toda aquela beleza estava condenada extino (1pargrafo) na voz ativa.
(UNESP - 2019 - 2 FASE) Leia o trecho inicial do romance O Ateneu, de Raul Pompeia (1863-1895), para responder a questo. Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, porta do Ateneu. Coragem para a luta. Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das iluses de criana educada exoticamente na estufa de carinho que o regime do amor domstico; diferente do que se encontra fora, to diferente, que parece o poema dos cuidados maternos um artifcio sentimental, com a vantagem nica de fazer mais sensvel a criatura impresso rude do primeiro ensinamento, tmpera brusca da vitalidade na influncia de um novo clima rigoroso. Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipcrita dos felizes tempos; como se a mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto, no nos houvesse perseguido outrora, e no viesse de longe a enfiada das decepes que nos ultrajam. Eufemismo, os felizes tempos, eufemismo apenas, igual aos outros que nos alimentam, a saudade dos dias que correram como melhores. Bem considerando, a atualidade a mesma em todas as datas. Feita a compensao dos desejos que variam, das aspiraes que se transformam, alentadas perpetuamente do mesmo ardor, sobre a mesma base fantstica de esperanas, a atualidade uma. Sob a colorao cambiante das horas, um pouco de ouro mais pela manh, um pouco mais de prpura ao crepsculo a paisagem a mesma de cada lado, beirando a estrada da vida. Eu tinha onze anos. Frequentara como externo, durante alguns meses, uma escola familiar do Caminho Novo, onde algumas senhoras inglesas, sob a direo do pai, distribuam educao infncia como melhor lhes parecia. Entrava s nove horas timidamente, ignorando as lies com a maior regularidade, e bocejava at s duas, torcendo-me de insipidez sobre os carcomidos bancos que o colgio comprara, de pinho e usados, lustrosos do contato da malandragem de no sei quantas geraes de pequenos. Ao meio-dia, davam-nos po com manteiga. Esta recordao gulosa o que mais pronunciadamente me ficou dos meses de externato; com a lembrana de alguns companheiros um que gostava de fazer rir aula, espcie interessante de mono louro, arrepiado, vivendo a morder, nas costas da mo esquerda, uma protuberncia calosa que tinha; outro adamado, elegante, sempre retirado, que vinha escola de branco, engomadinho e radioso, fechada a blusa em diagonal do ombro cinta por botes de madreprola. Mais ainda: a primeira vez que ouvi certa injria crespa, um palavro cercado de terror no estabelecimento, que os partistas denunciavam s mestras por duas iniciais como em monograma. Lecionou-me depois um professor em domiclio. Apesar deste ensaio da vida escolar a que me sujeitou a famlia, antes da verdadeira provao, eu estava perfeitamente virgem para as sensaes novas da nova fase. O internato! Destacada do conchego placentrio da dieta caseira, vinha prximo o momento de se definir a minha individualidade. (O Ateneu, 1999.) a)Que relao o narrador estabelece entre a vida familiar e a vida no internato? Justifique sua resposta. b)Por que razo o narrador chama de eufemismo os felizes tempos?
(UNESP - 2019 - 2 FASE) Leia o trecho inicial do romance O Ateneu, de Raul Pompeia (1863-1895), para responder a questo. Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, porta do Ateneu. Coragem para a luta. Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das iluses de criana educada exoticamente na estufa de carinho que o regime do amor domstico; diferente do que se encontra fora, to diferente, que parece o poema dos cuidados maternos um artifcio sentimental, com a vantagem nica de fazer mais sensvel a criatura impresso rude do primeiro ensinamento, tmpera brusca da vitalidade na influncia de um novo clima rigoroso. Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipcrita dos felizes tempos; como se a mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto, no noshouvesseperseguido outrora, e noviessede longe a enfiada das decepes que nos ultrajam. Eufemismo, os felizes tempos, eufemismo apenas, igual aos outros que nos alimentam, a saudade dos dias que correram como melhores. Bem considerando, a atualidade a mesma em todas as datas. Feita a compensao dos desejos que variam, das aspiraes que se transformam, alentadas perpetuamente do mesmo ardor, sobre a mesma base fantstica de esperanas, a atualidade uma. Sob a colorao cambiante das horas, um pouco de ouro mais pela manh, um pouco mais de prpura ao crepsculo a paisagem a mesma de cada lado, beirando a estrada da vida. Eu tinha onze anos. Frequentara como externo, durante alguns meses, uma escola familiar do Caminho Novo, onde algumas senhoras inglesas, sob a direo do pai, distribuam educao infncia como melhor lhes parecia. Entrava s nove horas timidamente, ignorando as lies com a maior regularidade, e bocejava at s duas, torcendo-me de insipidez sobre os carcomidos bancos que o colgio comprara, de pinho e usados, lustrosos do contato da malandragem de no sei quantas geraes de pequenos. Ao meio-dia, davam-nos po com manteiga. Esta recordao gulosa o que mais pronunciadamente me ficou dos meses de externato; com a lembrana de alguns companheiros um que gostava de fazer rir aula, espcie interessante de mono louro, arrepiado, vivendo a morder, nas costas da mo esquerda, uma protuberncia calosa que tinha; outro adamado, elegante, sempre retirado, que vinha escola de branco, engomadinho e radioso, fechada a blusa em diagonal do ombro cinta por botes de madreprola. Mais ainda: a primeira vez que ouvi certa injria crespa, um palavro cercado de terror no estabelecimento, que os partistas denunciavam s mestras por duas iniciais como em monograma. Lecionou-me depois um professor em domiclio. Apesar deste ensaio da vida escolar a que me sujeitou a famlia, antes da verdadeira provao, eu estava perfeitamente virgem para as sensaes novas da nova fase. O internato! Destacada do conchego placentrio da dieta caseira, vinha prximo o momento de se definir a minha individualidade. (O Ateneu, 1999.) a)Identifique os sujeitos dos verbos houvesse e viesse, sublinhados no segundo pargrafo. b)Transcreva o trecho Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, porta do Ateneu. (1pargrafo) para o discurso indireto.
(UNESP - 2018/2 -1 FASE) Examine a tira do cartunista Andr Dahmer. O conselho presente na primeira fala sugere falta de
(UNESP - 2018/2 - 1 FASE) Leia o conto A moa rica, de Rubem Braga (1913-1990), para responder s questes de 02a 06. A madrugada era escura nas moitas de mangue, e eu avanava no batelo1 velho; remava cansado, com um resto de sono. De longe veio um rincho2 de cavalo; depois, numa choa de pescador, junto do morro, tremulou a luz de uma lamparina. Aquele rincho de cavalo me fez lembrar a moa que eu encontrara galopando na praia. Ela era corada, forte. Viera do Rio, sabamos que era muito rica, filha de um irmo de um homem de nossa terra. A princpio a olhei com espanto, quase desgosto: ela usava calas compridas, fazia caadas, dava tiros, saa de barco com os pescadores. Mas na segunda noite, quando nos juntamos todos na casa de Joaquim Pescador, ela cantou; tinha bebido cachaa, como todos ns, e cantou primeiro uma coisa em ingls, depois o Luar do serto e uma cano antiga que dizia assim: Esse algum que logo encanta deve ser alguma santa. Era uma cano triste. Cantando, ela parou de me assustar; cantando, ela deixou que eu a adorasse com essa adorao sbita, mas tmida, esse fervor confuso da adolescncia adorao sem esperana, ela devia ter dois anos mais do que eu. E amaria o rapaz de suter e sapato de basquete, que costuma ir ao Rio, ou (murmurava-se) o homem casado, que j tinha ido at Europa e tinha um automvel e uma coleo de espingardas magnficas. No a mim, com minha pobre flaubert 3 , no a mim, de cala e camisa, descalo, no a mim, que no sabia lidar nem com um motor de popa, apenas tocar um batelo com meu remo. Duas semanas depois que ela chegou que a encontrei na praia solitria; eu vinha a p, ela veio galopando a cavalo; vi-a de longe, meu corao bateu adivinhando quem poderia estar galopando sozinha a cavalo, ao longo da praia, na manh fria. Pensei que ela fosse passar me dando apenas um adeus, esse bom-dia que no interior a gente d a quem encontra; mas parou, o animal resfolegando e ela respirando forte, com os seios agitados dentro da blusa fina, branca. So as duas imagens que se gravaram na minha memria, desse encontro: a pele escura e suada do cavalo e a seda branca da blusa; aquela dupla respirao animal no ar fino da manh. E saltou, me chamando pelo nome, conversou comigo. Sria, como se eu fosse um rapaz mais velho do que ela, um homem como os de sua roda, com calas de palm-beach, relgio de pulso. Perguntou coisas sobre peixes; fiquei com vergonha de no saber quase nada, no sabia os nomes dos peixes que ela dizia, deviam ser peixes de outros lugares mais importantes, com certeza mais bonitos. Perguntou se a gente comia aqueles cocos dos coqueirinhos junto da praia e falou de minha irm, que conhecera, quis saber se era verdade que eu nadara desde a ponta do Boi at perto da lagoa. De repente me fulminou: Por que voc no gosta de mim? Voc me trata sempre de um modo esquisito... Respondi, estpido, com a voz rouca: Eu no. Ela ento riu, disse que eu confessara que no gostava mesmo dela, e eu disse: No isso. Montou o cavalo, perguntou se eu no queria ir na garupa. Inventei que precisava passar na casa dos Lisboa. No insistiu, me deu um adeus muito alegre; no dia seguinte foi-se embora. Agora eu estava ali remando no batelo, para ir no Severone apanhar uns camares vivos para isca; e o relincho distante de um cavalo me fez lembrar a moa bonita e rica. Eu disse comigo rema, bobalho! e fui remando com fora, sem ligar para os respingos de gua fria, cada vez com mais fora, como se isto adiantasse alguma coisa. (Os melhores contos, 1997.) 1batelo: embarcao movida a remo. 2rincho: relincho. 3flaubert: um tipo de espingarda. O espanto inicial demonstrado pelo narrador em relao moa deve-se ao fato de ela