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Questões de Português - UNESP | Gabarito e resoluções

Questão 30
2017Português

(UNESP - 2017 - 2 fase - Questo 30) Leia a cena IX da comdia O Juiz de Paz da roa, do escritor Martins Pena (1815-1848), para responder (s) questo(es) a seguir. Cena IX Sala em casa do Juiz de paz. Mesa no meio com papis; cadeiras. Entra o Juiz de Paz vestido de cala branca, rodaque de riscado, chinelas verdes e sem gravata. Juiz: Vamo-nos preparando para dar audincia. (arranja os papis) O escrivo j tarda; sem dvida est na venda do Manuel do Coqueiro O ltimo recruta que se fez j vai me fazendo peso. Nada, no gosto de presos em casa. Podem fugir, e depois dizem que o Juiz recebeu algum presente. (batem porta) Quem ? Pode entrar. (entra um preto com um cacho de bananas e uma carta, que entrega ao Juiz. Juiz, lendo a carta) Ilmo. Sr. Muito me alegro de dizer a V. Sa. que a minha ao fazer desta boa, e que a mesma desejo para V. Sa. pelos circunlquios com que lhe venero. (deixando de ler) Circunlquios Que nome em breve! O que querer ele dizer? Continuemos. (lendo) Tomo a liberdade de mandar a V. Sa. um cacho de bananas-mas para V. Sa. comer com a sua boca e dar tambm a comer Sra. Juza e aos Srs. Juizinhos. V. Sa. h de reparar na insignificncia do presente; porm, Ilmo. Sr., as reformas da Constituio permitem a cada um fazer o que quiser, e mesmo fazer presentes; ora, mandando assim as ditas reformas, V. Sa. far o favor de aceitar as ditas bananas, que diz minha Teresa Ova serem muito boas. No mais, receba as ordens de quem seu venerador e tem a honra de ser Manuel Andr de Sapiruruca. Bom, tenho bananas para a sobremesa. pai, leva estas bananas para dentro e entrega senhora. Toma l um vintm para teu tabaco. (sai o negro) O certo que bem bom ser Juiz de paz c pela roa. De vez em quando temos nossos presentes de galinhas, bananas, ovos, etc., etc. (batem porta) Quem ? Escrivo (dentro): Sou eu. Juiz: Ah, o escrivo. Pode entrar. Comdias (1833-1844), 2007. Nesta cena, verifica-se alguma contradio na conduta do Juiz de paz? Justifique sua resposta, com base no texto.

Questão 30
2017Português

(UNESP - 2017/2 - 2 fase - Questo 30) Para responder (s) questo(es) a seguir, leia o segundo captulo do romance Iracema, do escritor Jos de Alencar (1829-1877), publicado em 1865. Alm, muito alm daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lbios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da 1grana, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da 2jati no era doce como seu sorriso, nem a baunilha recendia no bosque como seu hlito perfumado. Mais rpida que a ema selvagem, a morena virgem corria o serto e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nao tabajara. O p grcil e nu, mal roando, alisava apenas a verde pelcia que vestia a terra com as primeiras guas. Um dia, ao pino do Sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da 3oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da accia silvestre esparziam flores sobre os midos cabelos. Escondidos na folhagem os pssaros ameigavam o canto. Iracema saiu do banho: o 4aljfar dgua ainda a 5roreja, como doce 6mangaba que corou em manh de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do 7gar as flechas de seu arco e concerta com o sabi da mata, pousado no galho prximo, o canto agreste. A graciosa 8ar, sua companheira e amiga, brinca junto dela. s vezes sobe aos ramos da rvore e de l chama a virgem pelo nome; outras, remexe o uru9 de palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do 10craut, as agulhas da 11juara com que tece a renda e as tintas de que matiza o algodo. Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol no deslumbra; sua vista perturba-se. Diante dela e todo a contempl-la, est um guerreiro estranho, se guerreiro e no algum mau esprito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar, nos olhos o azul triste das guas profundas. 12Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo. Foi rpido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido. De primeiro mpeto, a mo 13lesta caiu sobre a cruz da espada; mas logo sorriu. O moo guerreiro aprendeu na religio de sua me, onde a mulher smbolo de ternura e amor. Sofreu mais dalma que da ferida. O sentimento que ele ps nos olhos e no rosto, no o sei eu. Porm a virgem lanou de si o arco e a 14uiraaba e correu para o guerreiro, sentida da mgoa que causara. A mo que rpida ferira estancou mais rpida e compassiva o sangue que gotejava. Depois Iracema quebrou a 15flecha homicida; deu a haste ao desconhecido, guardando consigo a ponta farpada. O guerreiro falou: Quebras comigo a flecha da paz? Quem te ensinou, guerreiro branco, a linguagem de meus irmos? Donde vieste a estas matas, que nunca viram outro guerreiro como tu? Venho de bem longe, filha das florestas. Venho das terras que teus irmos j possuram e hoje tm os meus. Bem-vindo seja o estrangeiro aos campos dos tabajaras, senhores das aldeias, e cabana de Araqum, pai de Iracema. Iracema, 2006. 1grana: pssaro de cor negra. 2jati: pequena abelha que fabrica delicioso mel. 3oiticica: rvore frondosa. 4aljfar: prola; por extenso: gota. 5rorejar: banhar. 6mangaba: fruto da mangabeira. 7gar: ave de cor vermelha. 8ar: periquito. 9uru: pequeno cesto. 10craut: bromlia. 11juara: palmeira de grandes espinhos. 12ignoto: que ou o que desconhecido. 13lesto: gil, veloz. 14uiraaba: estojo em que se guardavam e transportavam as flechas. 15quebrar a flecha: maneira simblica de se estabelecer a paz entre os indgenas. Examine o seguinte trecho: O sentimento que ele ps nos olhos e no rosto, no o sei eu. (12 pargrafo) A quem se refere o pronome eu? Reescreva este trecho em ordem direta, substituindo o pronome o pelo seu referente.

Questão 31
2017Português

(UNESP - 2017 - 2 fase - Questo 31) Leia a cena IX da comdiaO Juiz de Paz da roa, do escritor Martins Pena (1815-1848), para responder (s) questo(es) a seguir. Cena IX Sala em casa do Juiz de paz. Mesa no meio com papis; cadeiras. Entra o Juiz de Paz vestido de cala branca, rodaque de riscado, chinelas verdes e sem gravata. Juiz: Vamo-nos preparando para dar audincia. (arranja os papis) O escrivo j tarda; sem dvida est na venda do Manuel do Coqueiro O ltimo recruta que se fez j vai me fazendo peso. Nada, no gosto de presos em casa. Podem fugir, e depois dizem que o Juiz recebeu algum presente. (batem porta) Quem ? Pode entrar. (entra um preto com um cacho de bananas e uma carta, que entrega ao Juiz. Juiz, lendo a carta) Ilmo. Sr. Muito me alegro de dizer a V. Sa. que a minha ao fazer desta boa, e que a mesma desejo para V. Sa. pelos circunlquios com que lhe venero. (deixando de ler) Circunlquios Que nome em breve! O que querer ele dizer? Continuemos. (lendo) Tomo a liberdade de mandar a V. Sa. um cacho de bananas-mas para V. Sa. comer com a sua boca e dar tambm a comer Sra. Juza e aos Srs. Juizinhos. V. Sa. h de reparar na insignificncia do presente; porm, Ilmo. Sr., as reformas da Constituio permitem a cada um fazer o que quiser, e mesmo fazer presentes; ora, mandando assim as ditas reformas, V. Sa. far o favor de aceitar as ditas bananas, que diz minha Teresa Ova serem muito boas. No mais, receba as ordens de quem seu venerador e tem a honra de ser Manuel Andr de Sapiruruca. Bom, tenho bananas para a sobremesa. pai, leva estas bananas para dentro e entrega senhora. Toma l um vintm para teu tabaco. (sai o negro) O certo que bem bom ser Juiz de paz c pela roa. De vez em quando temos nossos presentes de galinhas, bananas, ovos, etc., etc. (batem porta) Quem ? Escrivo (dentro): Sou eu. Juiz: Ah, o escrivo. Pode entrar. Comdias(1833-1844), 2007. Quais personagens participam da cena? A que personagem se refere o pronome teu em Toma l um vintm para teu tabaco.? Qual a finalidade da carta enviada por Manuel Andr da Sapiruruca?

Questão 31
2017Português

(UNESP - 2017/2 - 2 fase - Questo 31) Leia o trecho do romance O cortio, de Alusio Azevedo (1857-1913), publicado em 1890. E [Jernimo] viu a Rita Baiana, que fora trocar o vestido por uma saia, surgir de ombros e braos nus, para danar. A lua destoldara-se nesse momento, envolvendo-a na sua 1coma de prata, a cujo refulgir os meneios da mestia melhor se acentuavam, cheios de uma graa irresistvel, simples, primitiva, feita toda de pecado, toda de paraso, com muito de serpente e muito de mulher. Ela saltou em meio da roda, com os braos na cintura, rebolando as 2ilhargas e bamboleando a cabea, ora para a esquerda, ora para a direita, como numa sofreguido de gozo carnal, num requebrado luxurioso que a punha ofegante; j correndo de barriga empinada; j recuando de braos estendidos, a tremer toda, como se se fosse afundando num prazer grosso que nem azeite, em que se no toma p e nunca se encontra fundo. [...] Mas, ningum como a Rita; s ela, s aquele demnio, tinha o mgico segredo daqueles movimentos de cobra amaldioada; aqueles requebros que no podiam ser sem o cheiro que a mulata soltava de si e sem aquela voz doce, quebrada, harmoniosa, arrogante, meiga e suplicante. [...] Naquela mulata estava o grande mistrio, a sntese das impresses que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se no torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o acar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traioeira, a lagarta viscosa, a murioca doida, que esvoaava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artrias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela msica feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantridas3 que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescncia afrodisaca. O cortio, 2012. 1coma: cabeleira. 2ilharga: anca. 3cantrida: besouro. Em que medida a descrio da personagem Rita Baiana afasta-se da descrio de Iracema? Exemplifique sua resposta com dois trechos retirados do texto de Alusio Azevedo. Que trao da esttica naturalista mostra-se mais visvel na descrio de Rita Baiana?

Questão 32
2017Português

(UNESP - 2017/2 - 2 fase - Questo 32) Leia o poema Sonetilho do falso Fernando Pessoa, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), que integra o livro Claro enigma, publicado em 1951. Onde nasci, morri. Onde morri, existo. E das peles que visto muitas h que no vi. Sem mim como sem ti posso durar. Desisto de tudo quanto misto e que odiei ou senti. Nem 1Fausto nem 2Mefisto, deusa que se ri deste nosso 3oaristo, eis-me a dizer: assisto alm, nenhum, aqui, mas no sou eu, nem isto. Claro enigma, 2012. 1Fausto: personagem alemo que fez um pacto com o diabo. 2Mefisto: personagem alemo considerado a personificao do diabo. 3oaristo: conversa carinhosa e familiar. Carlos Drummond de Andrade intitulou seu poema de Sonetilho do falso Fernando Pessoa. Por que razo o poeta refere-se a seu poema como sonetilho? Transcreva um verso em que a referncia aos heternimos do escritor portugus Fernando Pessoa se mostra evidente. Justifique sua resposta.

Questão 32
2017Português

(UNESP - 2017 - 2 fase - Questo 32) Leia o excerto do romance A hora da estrela de Clarice Lispector (1925-1977). Ser que eu enriqueceria este relato se usasse alguns difceis termos tcnicos? Mas a que est: esta histria no tem nenhuma tcnica, nem estilo, ela ao deus-dar. Eu que tambm no mancharia por nada deste mundo com palavras brilhantes e falsas uma vida parca como a da datilgrafa [Macaba]. Durante o dia eu fao, como todos, gestos despercebidos por mim mesmo. Pois um dos gestos mais despercebidos esta histria de que no tenho culpa e que sai como sair. A datilgrafa vivia numa espcie de atordoado nimbo, entre cu e inferno. Nunca pensara em eu sou eu. Acho que julgava no ter direito, ela era um acaso. Um feto jogado na lata de lixo embrulhado em um jornal. H milhares como ela? Sim, e que so apenas um acaso. Pensando bem: quem no um acaso na vida? Quanto a mim, s me livro de ser apenas um acaso porque escrevo, o que um ato que um fato. quando entro em contato com foras interiores minhas, encontro atravs de mim o vosso Deus. Para que escrevo? E eu sei? Sei no. Sim, verdade, s vezes tambm penso que eu no sou eu, pareo pertencer a uma galxia longnqua de to estranho que sou de mim. Sou eu? Espanto-me com o meu encontro. A hora da estrela, 1998. Para o narrador, o emprego de difceis termos tcnicos seria adequado para narrar a histria de Macaba? Justifique sua resposta. Transcreva a frase que melhor explicita a inconscincia da personagem Macaba. Justifique sua resposta.

Questão 41
2017HistóriaPortuguês

(UNESP - 2017 - 1 FASE) O artista Artur Barrio nasceu em Portugal e mudou-se para o Brasil em 1955, dedicando-se pintura a partir de 1965. Em 1969, comea a criar as Situaes: trabalhos de grande impacto, realizados com materiais orgnicos como lixo, papel higinico, detritos humanos e carne putrefata, com os quais realiza intervenes no espao urbano. No mesmo ano, escreve um manifesto no qual contesta as categorias tradicionais da arte e sua relao com o mercado, e a conjuntura histrica da Amrica Latina. Em 1970, na mostra coletiva Do corpo terra, espalha as Trouxas ensanguentadas em um rio em Belo Horizonte. (http://enciclopedia.itaucultural.org.br. Adaptado.) Relacionando-se a imagem, as informaes contidas no texto e o contexto do ano da mostra coletiva Do corpo terra, correto interpretar a interveno Trouxas ensanguentadas como uma

Questão 55
2017PortuguêsSociologia

(UNESP - 2017 - 1 FASE) Texto 1 Estamos em uma situao aterradora: dos lados da Direita e da esquerda h ausncia de pensamento. Voc conversa com algum da direita e v que ele capaz de dizer quatro frases contraditrias sem perceber as contradies. Voc conversa com algum da extrema esquerda e v o totalitarismo que tambm opera com a ausncia do pensamento. Ento ns estamos ensanduichados entre duas maneiras de recusar o pensamento. (Marilena Chaui. Sociedade brasileira: violncia e autoritarismo por todos os lados. Cult, Fevereiro de 2016. Adaptado.) Texto 2 O fenmeno dos coletivos um trao regressivo no embate com a solido do homem moderno. uma tentativa, canhestra e primitiva, de voltar ao tero materno para ver se o rudo insuportvel da realidade disforme do mundo se dissolve porque grito palavras de ordem ou fao coisas pelas quais eu mesmo no sou responsabilizado, mas sim o coletivo, essa pessoa indiferenciada que no existe. (Luiz Felipe Pond. Sapiens xabelhas. Folha de S. Paulo, 23.05.2016. Adaptado.) Sobre os textos, correto afirmar que

Questão 58
2017Português

(UNESP - 2017/2 - 1FASE) Folha Qual a sua maior preocupao com o DSM-5 (Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais, conhecido como a bblia da psiquiatria)? Corremos o risco de todos sermos considerados doentes mentais? Allen Frances O DSM-5 expandiu ainda mais o que j era um sistema de diagnstico muito vagamente definido. Tristeza normal, como o luto, por exemplo, torna-se transtorno depressivo maior; comer em excesso, torna-se transtorno da compulso alimentar; ataques de birras de crianas podem se tornar transtorno do temperamento irregular; o esquecimento na velhice passa a ser transtorno neurocognitivo leve; e as crianas normais so diagnosticadas com dficit de ateno e hiperatividade Folha Qual a influncia que as grandes farmacuticas exercem nessa tendncia? Allen Frances As multinacionais farmacuticas no tm qualquer influncia direta sobre as decises do DSM, mas aproveitam qualquer oportunidade para criar novas desordens psiquitricas. Eu acredito, por exemplo, que as farmacuticas sejam as responsveis por essas falsas epidemias de TDAH (transtorno do dficit de ateno e hiperatividade) e transtorno bipolar. (Cludia Colucci. Gastamos muito dinheiro para tratar pessoas normais, diz psiquiatra.www.folha.uol.com.br, 11.09.2016.) De acordo com o texto,

Questão 1
2016Português

(UNESP - 2016/2 - 1 FASE) Examine a tira do cartunista Andr Dahmer. O personagem retratado revela um temperamento

Questão 1
2016Português

(UNESP - 2016 - 1FASE) A questo toma por base uma crnica deLus Fernando Verssimo. A invaso A diviso cincia/humanismo se reflete na maneira como as pessoas, hoje, encaram o computador. Resiste- -se ao computador, e a toda a cultura ciberntica, como uma forma de ser fiel ao livro e palavra impressa. Mas o computador no eliminar o papel. Ao contrrio do que se pensava h alguns anos, o computador no salvar as florestas. Aumentou o uso do papel em todo o mundo, e no apenas porque a cada novidade eletrnica lanada no mercado corresponde um manual de instruo, sem falar numa embalagem de papelo e num embrulho para presente. O computador estimula as pessoas a escreverem e imprimirem o que escrevem. Como hoje qualquer um pode ser seu prprio editor, paginador e ilustrador sem largar o mouse, a tentao de passar sua obra para o papel quase irresistvel. Desconfio que o que salvar o livro ser o suprfluo, o que no tem nada a ver com contedo ou convenincia. At que lancem computadores com cheiro sintetizado, nada substituir o cheiro de papel e tinta nas suas duas categorias inimitveis, livro novo e livro velho. E nenhuma coleo de gravaes ornamentar uma sala com o calor e a dignidade de uma estante de livros. A tudo que falta ao admirvel mundo da informtica, da ciberntica, do virtual e do instantneo acrescente-se isso: falta lombada. No fim, o livro dever sua sobrevida decorao de interiores. (O Estado de S.Paulo, 31.05.2015.) De acordo com o cronista, a ideia que se tinha h alguns anos, de reduo de consumo de papel em razo do emprego generalizado de computadores, revelou-se

Questão 2
2016Português

(UNESP - 2016/2 - 1 FASE) Leia o excerto do Sermo da primeira dominga do Advento de Antnio Vieira (1608-1697), pregado na Capela Real em Lisboa no ano de 1650. Sabei cristos, sabei prncipes, sabei ministros, que se vos h de pedir estreita conta do que fizestes; mas muito mais estreita do que deixastes de fazer. Pelo que fizeram, se ho de condenar muitos, pelo que no fizeram, todos. [...] Desamos a exemplos mais pblicos. Por uma omisso perde-se uma mar, por uma mar perde-se uma viagem, por uma viagem perde-se uma armada, por uma armada perde-se um Estado: dai conta a Deus de uma ndia, dai conta a Deus de um Brasil, por uma omisso. Por uma omisso perde-se um aviso, por um aviso perde-se uma ocasio, por uma ocasio perde-se um negcio, por um negcio perde-se um reino: dai conta a Deus de tantas casas, dai conta a Deus de tantas vidas, dai conta a Deus de tantas fazendas1, dai conta a Deus de tantas honras, por uma omisso. Oh que arriscada salvao! Oh que arriscado ofcio o dos prncipes e o dos ministros! Est o prncipe, est o ministro divertido, sem fazer m obra, sem dizer m palavra, sem ter mau nem bom pensamento: e talvez naquela mesma hora, por culpa de uma omisso, est cometendo maiores danos, maiores estragos, maiores destruies, que todos os malfeitores do mundo em muitos anos. O salteador na charneca com um tiro mata um homem; o prncipe e o ministro com uma omisso matam de um golpe uma monarquia. A omisso o pecado que com mais facilidade se comete e com mais dificuldade se conhece; e o que facilmente se comete e dificultosamente se conhece, raramente se emenda. A omisso um pecado que se faz no fazendo. [...] Mas por que se perdem tantos? Os menos maus perdem-se pelo que fazem, que estes so os menos maus; os piores perdem-se pelo que deixam de fazer, que estes so os piores: por omisses, por negligncias, por descuidos, por desatenes, por divertimentos, por vagares, por dilaes, por eternidades. Eis aqui um pecado de que no fazem escrpulo os ministros, e um pecado por que se perdem muitos. Mas percam-se eles embora, j que assim o querem: o mal que se perdem a si e perdem a todos; mas de todos ho de darconta a Deus. Uma das cousas de que se devem acusar e fazer grande escrpulo os ministros, dos pecados do tempo. Porque fizeram o ms que vem o que se havia de fazer o passado; porque fizeram amanh o que se havia de fazer hoje; porque fizeram depois o que se havia de fazer agora; porque fizeram logo o que se havia de fazer j. To delicadas como isto ho de ser as conscincias dos que governam, em matrias de momentos. O ministro que no faz grande escr- pulo de momentos no anda em bom estado: a fazenda pode-se restituir; a fama, ainda que mal, tambm se restitui; o tempo no tem restituio alguma. (Essencial, 2013. Adaptado.) 1fazenda: conjunto de bens, de haveres. O alvo principal da crtica contida no excerto

Questão 2
2016Português

(UNESP - 2016 - 1FASE) A questo toma por base uma crnica deLus Fernando Verssimo. A invaso A diviso cincia/humanismo se reflete na maneira como as pessoas, hoje, encaram o computador. Resiste- -se ao computador, e a toda a cultura ciberntica, como uma forma de ser fiel ao livro e palavra impressa. Mas o computador no eliminar o papel. Ao contrrio do que se pensava h alguns anos, o computador no salvar as florestas. Aumentou o uso do papel em todo o mundo, e no apenas porque a cada novidade eletrnica lanada no mercado corresponde um manual de instruo, sem falar numa embalagem de papelo e num embrulho para presente. O computador estimula as pessoas a escreverem e imprimirem o que escrevem. Como hoje qualquer um pode ser seu prprio editor, paginador e ilustrador sem largar o mouse, a tentao de passar sua obra para o papel quase irresistvel. Desconfio que o que salvar o livro ser o suprfluo, o que no tem nada a ver com contedo ou convenincia. At que lancem computadores com cheiro sintetizado, nada substituir o cheiro de papel e tinta nas suas duas categorias inimitveis, livro novo e livro velho. E nenhuma coleo de gravaes ornamentar uma sala com o calor e a dignidade de uma estante de livros. A tudo que falta ao admirvel mundo da informtica, da ciberntica, do virtual e do instantneo acrescente-se isso: falta lombada. No fim, o livro dever sua sobrevida decorao de interiores. (O Estado de S.Paulo, 31.05.2015.) Os termos o uso do papel e um manual de instruo (1 pargrafo) se identificam sintaticamente por exercerem nas respectivas oraes a funo de

Questão 3
2016Português

(UNESP - 2016/2 - 1 FASE) Leia o excerto do Sermo da primeira dominga do Advento de Antnio Vieira (1608-1697), pregado na Capela Real em Lisboa no ano de 1650. Sabei cristos, sabei prncipes, sabei ministros, que se vos h de pedir estreita conta do que fizestes; mas muito mais estreita do que deixastes de fazer. Pelo que fizeram, se ho de condenar muitos, pelo que no fizeram, todos. [...] Desamos a exemplos mais pblicos. Por uma omisso perde-se uma mar, por uma mar perde-se uma viagem, por uma viagem perde-se uma armada, por uma armada perde-se um Estado: dai conta a Deus de uma ndia, dai conta a Deus de um Brasil, por uma omisso. Por uma omisso perde-se um aviso, por um aviso perde-se uma ocasio, por uma ocasio perde-se um negcio, por um negcio perde-se um reino: dai conta a Deus de tantas casas, dai conta a Deus de tantas vidas, dai conta a Deus de tantas fazendas1, dai conta a Deus de tantas honras, por uma omisso. Oh que arriscada salvao! Oh que arriscado ofcio o dos prncipes e o dos ministros! Est o prncipe, est o ministro divertido, sem fazer m obra, sem dizer m palavra, sem ter mau nem bom pensamento: e talvez naquela mesma hora, por culpa de uma omisso, est cometendo maiores danos, maiores estragos, maiores destruies, que todos os malfeitores do mundo em muitos anos. O salteador na charneca com um tiro mata um homem; o prncipe e o ministro com uma omisso matam de um golpe uma monarquia. A omisso o pecado que com mais facilidade se comete e com mais dificuldade se conhece; e o que facilmente se comete e dificultosamente se conhece, raramente se emenda. A omisso um pecado que se faz no fazendo. [...] Mas por que se perdem tantos? Os menos maus perdem-se pelo que fazem, que estes so os menos maus; os piores perdem-se pelo que deixam de fazer, que estes so os piores: por omisses, por negligncias, por descuidos, por desatenes, por divertimentos, por vagares, por dilaes, por eternidades. Eis aqui um pecado de que no fazem escrpulo os ministros, e um pecado por que se perdem muitos. Mas percam-se eles embora, j que assim o querem: o mal que se perdem a si e perdem a todos; mas de todos ho de darconta a Deus. Uma das cousas de que se devem acusar e fazer grande escrpulo os ministros, dos pecados do tempo. Porque fizeram o ms que vem o que se havia de fazer o passado; porque fizeram amanh o que se havia de fazer hoje; porque fizeram depois o que se havia de fazer agora; porque fizeram logo o que se havia de fazer j. To delicadas como isto ho de ser as conscincias dos que governam, em matrias de momentos. O ministro que no faz grande escr- pulo de momentos no anda em bom estado: a fazenda pode-se restituir; a fama, ainda que mal, tambm se restitui; o tempo no tem restituio alguma. (Essencial, 2013. Adaptado.) 1fazenda: conjunto de bens, de haveres. Implcita argumentao do autor est a defesa da

Questão 3
2016Português

(UNESP - 2016 - 1FASE) A questo toma por base uma crnica deLus Fernando Verssimo. A invaso A diviso cincia/humanismo se reflete na maneira como as pessoas, hoje, encaram o computador. Resiste- -se ao computador, e a toda a cultura ciberntica, como uma forma de ser fiel ao livro e palavra impressa. Mas o computador no eliminar o papel. Ao contrrio do que se pensava h alguns anos, o computador no salvar as florestas. Aumentou o uso do papel em todo o mundo, e no apenas porque a cada novidade eletrnica lanada no mercado corresponde um manual de instruo, sem falar numa embalagem de papelo e num embrulho para presente. O computador estimula as pessoas a escreverem e imprimirem o que escrevem. Como hoje qualquer um pode ser seu prprio editor, paginador e ilustrador sem largar o mouse, a tentao de passar sua obra para o papel quase irresistvel. Desconfio que o que salvar o livro ser o suprfluo, o que no tem nada a ver com contedo ou convenincia. At que lancem computadores com cheiro sintetizado, nada substituir o cheiro de papel e tinta nas suas duas categorias inimitveis, livro novo e livro velho. E nenhuma coleo de gravaes ornamentar uma sala com o calor e a dignidade de uma estante de livros. A tudo que falta ao admirvel mundo da informtica, da ciberntica, do virtual e do instantneo acrescente-se isso: falta lombada. No fim, o livro dever sua sobrevida decorao de interiores. (O Estado de S.Paulo, 31.05.2015.) Em falta lombada (2 pargrafo), o cronista se utiliza, estilisticamente, de uma figura de linguagem que: