(UNESP-1 FASE) Leia o soneto Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia, do poeta Gregrio de Matos (1636-1696), para responder s questes de 09 a 12. A cada canto um grande conselheiro, Que nos quer governar cabana e vinha; No sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro. Em cada porta um bem frequente olheiro, Que a vida do vizinho e da vizinha Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha, Para o levar praa e ao terreiro. Muitos mulatos desavergonhados, Trazidos sob os ps os homens nobres, Posta nas palmas toda a picardia, Estupendas usuras nos mercados, Todos os que no furtam muito pobres: E eis aqui a cidade da Bahia. (Gregrio de Matos.Poemas escolhidos, 2010.) 1Trazidos sob os ps os homens nobres: na viso de Gregrio de Matos, os mulatos em ascenso subjugam com esperteza os verdadeiros homens nobres. No soneto, verifica-se rima entre palavras de classes gramaticais diferentes
(UNESP - 2023) Para responder s questes 11 e 12, leia alguns trechos do Prefcio Interessantssimo de Pauliceia Desvairada, de Mrio de Andrade, obra considerada marco do Modernismo brasileiro e publicada originalmente em julho de 1922. Leitor: Est fundado o Desvairismo. * Este prefcio, apesar de interessante, intil. * Quando sinto a impulso lrica escrevo sem pensar tudo o que meu inconsciente me grita. Penso depois: no s para corrigir, como para justificar o que escrevi. Da a razo deste Prefcio Interessantssimo. * E desculpe-me por estar to atrasado dos movimentos artsticos atuais. Sou passadista, confesso. Ningum pode se libertar duma s vez das teorias-avs que bebeu; e o autor deste livro seria hipcrita se pretendesse representar orientao moderna que ainda no compreende bem. * No sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontos de contato com o futurismo. Oswald de Andrade, chamando-me de futurista, errou. A culpa minha. Sabia da existncia do artigo e deixei que sasse. Tal foi o escndalo, que desejei a morte do mundo. Era vaidoso. Quis sair da obscuridade. Hoje tenho orgulho. No me pesaria reentrar na obscuridade. Pensei que se discutiriam minhas ideias (que nem so minhas): discutiram minhas intenes. * Um pouco de teoria? Acredito que o lirismo, nascido no subconsciente, acrisolado num pensamento claro ou confuso, cria frases que so versos inteiros, sem prejuzo de medir tantas slabas, com acentuao determinada. (Mrio de Andrade. Poesias completas, 2013.) Mrio de Andrade recorre metalinguagem no seguinte trecho:
(UNESP-1 FASE) Examine a tirinha da cartunista Laerte, publicada em sua conta do Instagram em 28.03.2022. A se acreditar na narrativa do sapo,
(UNESP-1 FASE) Para responder s questes de 14 a 19, leia o trecho de um ensaio de Michel de Montaigne (1533-1592). H alguma razo em fazer o julgamento de um homem pelos aspectos mais comuns de sua vida; mas, tendo em vista a natural instabilidade de nossos costumes e opinies, muitas vezes me pareceu que mesmo os bons autores esto errados em se obstinarem em formar de ns uma ideia constante e slida. Escolhem um carter universal e, seguindo essa imagem, vo arrumando e interpretando todas as aes de um personagem, e, se no conseguem torc-las o suficiente, atribuem-nas dissimulao. Creio mais dificilmente na constncia dos homens do que em qualquer outra coisa, e em nada mais facilmente do que na inconstncia. Quem os julgasse nos pormenores e separadamente, pea por pea, teria mais ocasies de dizer a verdade. Em toda a Antiguidade difcil escolher uma dzia de homens que tenham ordenado sua vida num projeto definido e seguro, que o principal objetivo da sabedoria. Pois para resumi-la por inteiro numa s palavra e abranger em uma s todas as regras de nossa vida, a sabedoria, diz um antigo, sempre querer a mesma coisa, sempre no querer a mesma coisa, eu no me dignaria, diz ele, a acrescentar contanto que a tua vontade esteja certa, pois se no est certa, impossvel que sempre seja uma s e a mesma. Na verdade, aprendi outrora que o vcio apenas o desregramento e a falta de moderao; e, por conseguinte, impossvel o imaginarmos constante. uma frase de Demstenes, dizem, que o comeo de toda virtude so a reflexo e a deliberao, e seu fim e sua perfeio, a constncia. Se, guiados pela reflexo, pegssemos certa via, pegaramos a mais bela, mas ningum pensa antes de agir: O que ele pediu, desdenha; exige o que acaba de abandonar; agita-se e sua vida no se dobra a nenhuma ordem. (Michel de Montaigne. Os ensaios: uma seleo, 2010. Adaptado.) De acordo com Montaigne, as aes humanas caracterizam-se
(UNESP-1 FASE) Para responder s questes de 14 a 19, leia o trecho de um ensaio de Michel de Montaigne (1533-1592). H alguma razo em fazer o julgamento de um homem pelos aspectos mais comuns de sua vida; mas, tendo em vista a natural instabilidade de nossos costumes e opinies, muitas vezes me pareceu que mesmo os bons autores esto errados em se obstinarem em formar de ns uma ideia constante e slida. Escolhem um carter universal e, seguindo essa imagem, vo arrumando e interpretando todas as aes de um personagem, e, se no conseguem torc-las o suficiente, atribuem-nas dissimulao. Creio mais dificilmente na constncia dos homens do que em qualquer outra coisa, e em nada mais facilmente do que na inconstncia. Quem os julgasse nos pormenores e separadamente, pea por pea, teria mais ocasies de dizer a verdade. Em toda a Antiguidade difcil escolher uma dzia de homens que tenham ordenado sua vida num projeto definido e seguro, que o principal objetivo da sabedoria. Pois para resumi-la por inteiro numa s palavra e abranger em uma s todas as regras de nossa vida, a sabedoria, diz um antigo, sempre querer a mesma coisa, sempre no querer a mesma coisa, eu no me dignaria, diz ele, a acrescentar contanto que a tua vontade esteja certa, pois se no est certa, impossvel que sempre seja uma s e a mesma. Na verdade, aprendi outrora que o vcio apenas o desregramento e a falta de moderao; e, por conseguinte, impossvel o imaginarmos constante. uma frase de Demstenes, dizem, que o comeo de toda virtude so a reflexo e a deliberao, e seu fim e sua perfeio, a constncia. Se, guiados pela reflexo, pegssemos certa via, pegaramos a mais bela, mas ningum pensa antes de agir: O que ele pediu, desdenha; exige o que acaba de abandonar; agita-se e sua vida no se dobra a nenhuma ordem. (Michel de Montaigne. Os ensaios: uma seleo, 2010. Adaptado.) Do ponto de vista temtico, o texto de Montaigne dialoga especialmente com a seguinte citao:
(UNESP-1 FASE) Para responder s questes de 14 a 19, leia o trecho de um ensaio de Michel de Montaigne (1533-1592). H alguma razo em fazer o julgamento de um homem pelos aspectos mais comuns de sua vida; mas, tendo em vista a natural instabilidade de nossos costumes e opinies, muitas vezes me pareceu que mesmo os bons autores esto errados em se obstinarem em formar de ns uma ideia constante e slida. Escolhem um carter universal e, seguindo essa imagem, vo arrumando e interpretando todas as aes de um personagem, e, se no conseguem torc-las o suficiente, atribuem-nas dissimulao. Creio mais dificilmente na constncia dos homens do que em qualquer outra coisa, e em nada mais facilmente do que na inconstncia. Quem os julgasse nos pormenores e separadamente, pea por pea, teria mais ocasies de dizer a verdade. Em toda a Antiguidade difcil escolher uma dzia de homens que tenham ordenado sua vida num projeto definido e seguro, que o principal objetivo da sabedoria. Pois para resumi-la por inteiro numa s palavra e abranger em uma s todas as regras de nossa vida, a sabedoria, diz um antigo, sempre querer a mesma coisa, sempre no querer a mesma coisa, eu no me dignaria, diz ele, a acrescentar contanto que a tua vontade esteja certa, pois se no est certa, impossvel que sempre seja uma s e a mesma. Na verdade, aprendi outrora que o vcio apenas o desregramento e a falta de moderao; e, por conseguinte, impossvel o imaginarmos constante. uma frase de Demstenes, dizem, que o comeo de toda virtude so a reflexo e a deliberao, e seu fim e sua perfeio, a constncia. Se, guiados pela reflexo, pegssemos certa via, pegaramos a mais bela, mas ningum pensa antes de agir: O que ele pediu, desdenha; exige o que acaba de abandonar; agita-se e sua vida no se dobra a nenhuma ordem. (Michel de Montaigne.Os ensaios: uma seleo, 2010. Adaptado.) No primeiro pargrafo, Montaigne ressalta que mesmo os bons autores tendem a
(UNESP-1 FASE) Para responder s questes de 14 a 19, leia o trecho de um ensaio de Michel de Montaigne (1533-1592). H alguma razo em fazer o julgamento de um homem pelos aspectos mais comuns de sua vida; mas, tendo em vista a natural instabilidade de nossos costumes e opinies, muitas vezes me pareceu que mesmo os bons autores esto errados em se obstinarem em formar de ns uma ideia constante e slida. Escolhem um carter universal e, seguindo essa imagem, vo arrumando e interpretando todas as aes de um personagem, e, se no conseguem torc-las o suficiente, atribuem-nas dissimulao. Creio mais dificilmente na constncia dos homens do que em qualquer outra coisa, e em nada mais facilmente do que na inconstncia. Quem os julgasse nos pormenores e separadamente, pea por pea, teria mais ocasies de dizer a verdade. Em toda a Antiguidade difcil escolher uma dzia de homens que tenham ordenado sua vida num projeto definido e seguro, que o principal objetivo da sabedoria. Pois para resumi-la por inteiro numa s palavra e abranger em uma s todas as regras de nossa vida, a sabedoria, diz um antigo, sempre querer a mesma coisa, sempre no querer a mesma coisa, eu no me dignaria, diz ele, a acrescentar contanto que a tua vontade esteja certa, pois se no est certa, impossvel que sempre seja uma s e a mesma. Na verdade, aprendi outrora que o vcio apenas o desregramento e a falta de moderao; e, por conseguinte, impossvel o imaginarmos constante. uma frase de Demstenes, dizem, que o comeo de toda virtude so a reflexo e a deliberao, e seu fim e sua perfeio, a constncia. Se, guiados pela reflexo, pegssemos certa via, pegaramos a mais bela, mas ningum pensa antes de agir: O que ele pediu, desdenha; exige o que acaba de abandonar; agita-se e sua vida no se dobra a nenhuma ordem. (Michel de Montaigne.Os ensaios: uma seleo, 2010. Adaptado.) No segundo pargrafo, depreende-se das reflexes de Montaigne a ntima relao entre
(UNESP-1 FASE) Para responder s questes de 14 a 19, leia o trecho de um ensaio de Michel de Montaigne (1533-1592). H alguma razo em fazer o julgamento de um homem pelos aspectos mais comuns de sua vida; mas, tendo em vista a natural instabilidade de nossos costumes e opinies, muitas vezes me pareceu que mesmo os bons autores esto errados em se obstinarem em formar de ns uma ideia constante e slida. Escolhem um carter universal e, seguindo essa imagem, vo arrumando e interpretando todas as aes de um personagem, e, se no conseguem torc-las o suficiente, atribuem-nas dissimulao. Creio mais dificilmente na constncia dos homens do que em qualquer outra coisa, e em nada mais facilmente do que na inconstncia. Quem os julgasse nos pormenores e separadamente, pea por pea, teria mais ocasies de dizer a verdade. Em toda a Antiguidade difcil escolher uma dzia de homens que tenham ordenado sua vida num projeto definido e seguro, que o principal objetivo da sabedoria. Pois para resumi-la por inteiro numa s palavra e abranger em uma s todas as regras de nossa vida, a sabedoria, diz um antigo, sempre querer a mesma coisa, sempre no querer a mesma coisa, eu no me dignaria, diz ele, a acrescentar contanto que a tua vontade esteja certa, pois se no est certa, impossvel que sempre seja uma s e a mesma. Na verdade, aprendi outrora que o vcio apenas o desregramento e a falta de moderao; e, por conseguinte, impossvel o imaginarmos constante. uma frase de Demstenes, dizem, que o comeo de toda virtude so a reflexo e a deliberao, e seu fim e sua perfeio, a constncia. Se, guiados pela reflexo, pegssemos certa via, pegaramos a mais bela, mas ningum pensa antes de agir: O que ele pediu, desdenha; exige o que acaba de abandonar; agita-se e sua vida no se dobra a nenhuma ordem. (Michel de Montaigne.Os ensaios: uma seleo, 2010. Adaptado.) Em eu no me dignaria [...] a acrescentar contanto que a tua vontade esteja certa, pois se no est certa, impossvel que sempre seja uma s e a mesma. (2pargrafo), a locuo sublinhada pode ser substituda, sem prejuzo para o sentido do texto, por:
(UNESP-1 FASE) Para responder s questes de 14 a 19, leia o trecho de um ensaio de Michel de Montaigne (1533-1592). H alguma razo em fazer o julgamento de um homem pelos aspectos mais comuns de sua vida; mas, tendo em vista a natural instabilidade de nossos costumes e opinies, muitas vezes me pareceu que mesmo os bons autores esto errados em se obstinarem em formar de ns uma ideia constante e slida. Escolhem um carter universal e, seguindo essa imagem, vo arrumando e interpretando todas as aes de um personagem, e, se no conseguem torc-las o suficiente, atribuem-nas dissimulao. Creio mais dificilmente na constncia dos homens do que em qualquer outra coisa, e em nada mais facilmente do que na inconstncia. Quem os julgasse nos pormenores e separadamente, pea por pea, teria mais ocasies de dizer a verdade. Em toda a Antiguidade difcil escolher uma dzia de homens que tenham ordenado sua vida num projeto definido e seguro, que o principal objetivo da sabedoria. Pois para resumi-la por inteiro numa s palavra e abranger em uma s todas as regras de nossa vida, a sabedoria, diz um antigo, sempre querer a mesma coisa, sempre no querer a mesma coisa, eu no me dignaria, diz ele, a acrescentar contanto que a tua vontade esteja certa, pois se no est certa, impossvel que sempre seja uma s e a mesma. Na verdade, aprendi outrora que o vcio apenas o desregramento e a falta de moderao; e, por conseguinte, impossvel o imaginarmos constante. uma frase de Demstenes, dizem, que o comeo de toda virtude so a reflexo e a deliberao, e seu fim e sua perfeio, a constncia. Se, guiados pela reflexo, pegssemos certa via, pegaramos a mais bela, mas ningum pensa antes de agir: O que ele pediu, desdenha; exige o que acaba de abandonar; agita-se e sua vida no se dobra a nenhuma ordem. (Michel de Montaigne.Os ensaios: uma seleo, 2010. Adaptado.) o comeo de toda virtude so a reflexo e a deliberao, e seu fim e sua perfeio, a constncia (2pargrafo) Nesse trecho, a segunda vrgula empregada com a finalidade de
(UNESP - 1 FASE) The literary principle according to which the writing and criticism of poetry and drama were to be guided by rules and precedents derived from the best ancient Greek and Roman authors; a codified form of classicism that dominated French literature in the 17th and 18th centuries, with a significant influence on English writing, especially from c.1660 to c.1780. In a more general sense, often employed in contrast with romanticism, the term has also been used to describe the characteristic world-view or value-system of this Age of Reason, denoting a preference for rationality, clarity, restraint, order, and decorum, and for general truths rather than particular insights. (Chris Baldick. The Concise Oxford Dictionary of Literary Terms, 2001.) O termo literrio a que o texto se refere o
(UNESP - 2023) Observe a reproduo da tela Morro de Favela, de Tarsila do Amaral. A tela, produzida em 1924, traz elementos coincidentes com as propostas do Manifesto Pau-Brasil, como
(UNESP - 1 FASE) Texto 1 Texto 2 A concepo de real e virtual pensados como um contnuo se v reforada pela percepo de que um registro afeta o outro. Tal ideia sustentada por autores que concebem a internet como uma ferramenta para veicular as subjetividades de nossa poca, mas no s. [] Segundo Vigan, o advento da internet contribui potencialmente para fazer da assim dita realidade virtual um elemento constitutivo da realidade social. (Flvia Hasky e Isabel Fortes. Desconstruindo polarizaes acerca da internet: entrelaamentos entre os universos on-line e off-line. Psicologia em Pesquisa, 2022.) O contraste entre esses textos permite retomar, na atualidade, uma clssica questo filosfica, o que real?, pois a
(UNESP - 2022 - 1 fase - DIA 1) Examine o cartum de Pietro Soldi, publicado em sua conta do Instagram em 11.09.2019. Depreende-se do cartum que o motorista
(UNESP - 2022 - 2 FASE) Para responder s questes 01 e 02, examine a tirinha do cartunista Andr Dahmer. Depreende-se da fala do personagem no primeiro quadrinho que
(UNESP - 2022 - 1 fase - DIA 1) Leia a crnica Almaspenadas, de Olavo Bilac, publicada originalmente em 1902 Outro fantasma?... verdade: outro fantasma. J tardava. O Rio de Janeiro no pode passar muito tempo sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, j se no adormecem as crianas com histrias de fadas e de almas do outro mundo. Mas, ainda h menos de cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco dessa primitiva credulidade. Inventar um fantasma ainda um magnfico recurso para quem quer levar abom termo qualquer grossa patifaria. As almas simples vo propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse temor, os patifes vo rejubilando. O novo espectro que nos aparece o de Catumbi. Comeou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo pacato bairro como um fantasma de grande e louvvel modstia. E to esbatido1passava o seu vulto na treva, to sutilmente deslizava ao longo das casas adormecidas que as primeiras pessoas que o viram no puderam em conscincia dizerse era duende macho ou duende fmea. [...] O fantasma no falava naturalmente por saber de longa data que pela boca que morrem os peixes e os fantasmas... Tambm, ningum lhe falava no por experincia, mas por medo.Porque, enfim, pode um homem ter nascido num sculo de luzes e de descrenas, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados seios da Revoluo Francesa, e no acreditar nem em Deus nem no Diabo e, apesar disso, sentir avoz presa na garganta, quando encontra na rua, a desoras2, uma avantesma3... Assim, um profundo mistrio cercava a existncia do lobisomem de Catumbi quando comearam de aparecer vestgios assinalados de sua passagem, no j pelas ruas, maspelo interior das casas. No vades agora crer que se tenham sumido, por exemplo, as hstias consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados do cemitrio de S. Francisco de Paula tenham achado alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai de famlia, certa manh, ao despertar, tenha dado pela falta... da prpria alma. Nada disso. Os fenmenos eram outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polcia, finalmente, adquiriu a convico de que o lobisomem, para perptua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados antigos, e dando-se prtica de excessos menos merecedores de exorcismos que de cadeia. Dizem as folhas4 que a polcia, competentemente munida de bentinhos5 e de revlveres, de amuletos e de sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal, dando conta da diligncia, disse que o delegado achou dentro da casa sinistra um velho pardieiro6 que fica no topo de uma ladeira ngreme alguns objetos singulares que pareciam instrumentos pertencentes a gatunos. E acrescentou: alguns morcegos esvoaavam espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os sitiantes7 empunhavam. Esta nota de morcegos deve ser um chique romntico donoticiarista. No fundo da alma de todo o reprter h sempre um poeta... Vamos l! nestes tempos, que correm, j nem h morcegos. Esses feios quirpteros, esses medonhos ratos alados, companheiros clssicos do terror noturno, j no aparecem pelo bairro civilizado de Catumbi. Os animais, que esvoaavam espavoridos, eram sem dvida os franges roubados aos quintais das casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu tempo passou. (Olavo Bilac. Melhores crnicas, 2005.) 1 esbatido: de tom plido. 2 a desoras: muito tarde. 3 avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro. 4 folha: peridico dirio, jornal. 5 bentinho: objeto de devoo contendo oraes escritas. 6 pardieiro: prdio velho ou arruinado. 7 sitiante: policial. Em relao reportagem sobre a diligncia policial (4e 5pargrafos), o cronista destaca seu carter