(UNESP - 2024) Para responder s questes de 18 a 20, leia a crnica de Luis Fernando Verissimo. Esta ideia para um conto de terror to terrvel que, logo depois de t-la, me arrependi. Mas j estava tida, no adiantava mais. Voc, leitor, no entanto, tem uma escolha. Pode parar aqui, e se poupar, ou ler at o fim e provavelmente nunca mais dormir. Vejo que decidiu continuar. Muito bem, vamos em frente. Talvez, posta no papel, a ideia perca um pouco do seu poder de susto. Mas no posso garantir nada. assim: Um casal de velhos mora sozinho numa casa. J criaram os filhos, os netos j esto grandes, s lhes resta implicar um com o outro. Retomam com novo fervor uma discusso antiga. Ela diz que ele ronca quando dorme, ele diz que mentira. Ronca. No ronco. Ele diz que no ronca comenta ela, impaciente, como se falasse com uma terceira pessoa. Mas no existe outra pessoa na casa. Os filhos raramente visitam. Os netos, nunca. A empregada vem de manh, faz o almoo, deixa o jantar feito e sai cedo. Ficam os dois sozinhos. Eu devia gravar os seus roncos, pra voc se convencer diz ela. E em seguida tem a ideia infeliz. o que eu vou fazer! Esta noite, quando voc dormir, vou ligar o gravador e gravar os seus roncos. Humrfm diz o velho. Voc, leitor, j deve estar sentindo o que vai acontecer. Pare de ler, leitor. Eu no posso parar de escrever. As ideias no podem ser desperdiadas, mesmo que nos custem amigos, a vida ou o sono. Imagine se Shakespeare tivesse se horrorizado com suas prprias ideias e deixado de escrev- -las, por puro comedimento. No que eu queira me comparar a Shakespeare. Shakespeare era bem mais magro. Tenho que exercer este ofcio, esta danao. Voc, no entanto, no obrigado a me acompanhar, leitor. V passear, v tomar sol. Uma das maneiras de controlar a demncia solta no mundo deixar os escritores falando sozinhos, exercendo sozinhos a sua profisso mals, o seu vcio solitrio. Voc ainda est lendo. Voc pior do que eu, leitor. Voc tinha escolha. Sozinhos. Os velhos sozinhos na casa. Os dois vo para a cama. Quando o velho dorme, a velha liga o gravador. Mas em poucos minutos a velha tambm dorme. O gravador fica ligado, gravando. Pouco depois a fita acaba. Na manh seguinte, certa do seu triunfo, a velha roda a fita. Ouvem-se alguns minutos de silncio. Depois, algum roncando. Rar! diz a velha, feliz. Pouco depois ouve-se o ronco de outra pessoa. A velha tambm ronca! Rar! diz o velho, vingativo. E em seguida, por cima do contraponto de roncos, ouve- -se um sussurro. Uma voz sussurrando, leitor. Uma voz indefinida. Pode ser de homem, de mulher ou de criana. A princpio por causa dos roncos no se distingue o que ela diz. Mas aos poucos as palavras vo ficando claras. So duas vozes. um dilogo sussurrado. Esto prontos? No, acho que ainda no Ento vamos voltar amanh (Luis Fernando Verissimo. O suicida e o computador, 1992.) Em As ideias no podem ser desperdiadas, mesmo que nos custem amigos, a vida ou o sono. (9o pargrafo), a orao subordinada expressa ideia de
(UNESP - 2024) Examine a charge de Millr Fernandes, publicada originalmente em 12.03.1969. a) Explicite a relao de sentido estabelecida entre a expresso engolir minhas prprias palavras e a imagem da charge. b) Reescreva na voz passiva a fala que compe a charge.
(UNESP - 2024) Para responder s questes de 26 a 28, leia o poema Crculo vicioso, de Machado de Assis. Crculo vicioso Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume: Quem me dera que fosse aquela loura estrela, Que arde no eterno azul, como uma eterna vela! Mas a estrela, fitando a lua, com cime: Pudesse eu copiar o transparente lume1, Que, da grega coluna gtica janela, Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela! Mas a lua, fitando o sol, com azedume: Msera! tivesse eu aquela enorme, aquela Claridade imortal, que toda a luz resume! Mas o sol, inclinando a rtila capela2: Pesa-me esta brilhante aurola de nume3... Enfara4-me esta azul e desmedida umbela5... Por que no nasci eu um simples vaga-lume? (Jos Lino Grnewald (org.). Grandes sonetos da nossa lngua, 1987.) 1lume: luz, brilho, claridade. 2rtila capela: cintilante grinalda. 3nume: ser ou potncia divina, divindade. 4enfarar: entediar. 5umbela: qualquer objeto ou estrutura em forma de guarda-chuva. a) Que sentimento permeia todo o poema? O que motiva esse sentimento? b) Alm das vozes do vaga-lume, da estrela, da lua e do sol, que outra voz h no poema? Transcreva um verso em que essa outra voz se manifesta.
(UNESP - 2024) Para responder s questes de 26 a 28, leia o poema Crculo vicioso, de Machado de Assis. Crculo vicioso Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume: Quem me dera que fosse aquela loura estrela, Que arde no eterno azul, como uma eterna vela! Mas a estrela, fitando a lua, com cime: Pudesse eu copiar o transparente lume1, Que, da grega coluna gtica janela, Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela! Mas a lua, fitando o sol, com azedume: Msera! tivesse eu aquela enorme, aquela Claridade imortal, que toda a luz resume! Mas o sol, inclinando a rtila capela2: Pesa-me esta brilhante aurola de nume3... Enfara4-me esta azul e desmedida umbela5... Por que no nasci eu um simples vaga-lume? (Jos Lino Grnewald (org.). Grandes sonetos da nossa lngua, 1987.) 1lume: luz, brilho, claridade. 2rtila capela: cintilante grinalda. 3nume: ser ou potncia divina, divindade. 4enfarar: entediar. 5umbela: qualquer objeto ou estrutura em forma de guarda-chuva. a) Considerando o contedo do poema, justifique o seu ttulo (Crculo vicioso). b) Cite uma palavra do poema formada por prefixao e identifique o sentido de seu prefixo.
(UNESP - 2024) Para responder s questes de 26 a 28, leia o poema Crculo vicioso, de Machado de Assis. Crculo vicioso Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume: Quem me dera que fosse aquela loura estrela, Que arde no eterno azul, como uma eterna vela! Mas a estrela, fitando a lua, com cime: Pudesse eu copiar o transparente lume1, Que, da grega coluna gtica janela, Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela! Mas a lua, fitando o sol, com azedume: Msera! tivesse eu aquela enorme, aquela Claridade imortal, que toda a luz resume! Mas o sol, inclinando a rtila capela2: Pesa-me esta brilhante aurola de nume3... Enfara4-me esta azul e desmedida umbela5... Por que no nasci eu um simples vaga-lume? (Jos Lino Grnewald (org.). Grandes sonetos da nossa lngua, 1987.) 1lume: luz, brilho, claridade. 2rtila capela: cintilante grinalda. 3nume: ser ou potncia divina, divindade. 4enfarar: entediar. 5umbela: qualquer objeto ou estrutura em forma de guarda-chuva. a) Do ponto de vista formal, a que perodo literrio o poema se alinha? Justifique sua resposta. b) Rima rica aquela que ocorre entre palavras de classes gramaticais diferentes. Identifique duas rimas ricas empregadas no poema.
(UNESP - 2024) Para responder s questes 29 e 30, leia o conto cokwe* A lebre e o camaleo e o trecho de uma crnica da escritora angolana Ana Paula Tavares, escrita sobre esse conto. *cokwe: relativo ao povo cokwe, uma etnia banta que se concentra sobretudo no nordeste de Angola. Dizem os antigos que a lebre e o camaleo resolveram ir pelos caminhos das caravanas levando borracha para permutar pelos belos tecidos vindos de oriente e ocidente. Muitas vezes a acelerada lebre ultrapassou e cruzou o lento camaleo nos longos caminhos do mato, levando produtos e trazendo panos, gritando-lhe enquanto desaparecia: C vou eu! Ao desafio respondia o camaleo: Chegarei a meu tempo. Finalmente, a lebre, assim como adquiriu bonitos panos, tambm os perdeu, nos percalos da desordenada pressa, e anda para a vestida dum cinzento escuro e sem cor. O lento e pautado camaleo juntou farta fazenda, e tanta e to diferente, que ainda hoje muda, a todo o instante, panos de variado colorido. (A lebre e o camaleo. Apud Ana Paula Tavares. Um rio preso nas mos, 2019.) *** Este conto cokwe parece resolver com felicidade questes da histria do continente africano e lidar com uma apreenso do real e do imaginrio. A escolha das personagens da histria , em si, uma das apostas destes contadores e cultores da linguagem que, de uma vez por todas, poupam a tartaruga desta disputa vulgar e da tenso de uma corrida. tartaruga esto reservados outros papis, noutras histrias que lidam com os sentidos profundos da vida e da morte, do dia e da noite. O jogo com a linguagem permite-nos perceber a histria profunda das viagens que, em momentos diferentes, estiveram na origem da formao dos cokwe como grupo autnomo: origens, terras ancestrais, relao com outros grupos, adoo de novos costumes e ainda assim fidelizao a um ncleo duro das origens. Sob sua superfcie aparentemente simples, esta histria esconde todos os mitos de fundao, rituais de passagem e a escrita da histria. Tudo ali faz sentido: as personagens, a lngua que falam e as vestes que as tornam atores de um complexo processo histrico. O resto a lentido e o desenho na areia que se faz s para ser apagado. (Ana Paula Tavares. Um rio preso nas mos, 2019. Adaptado.) a) Cite um provrbio que poderia servir como moral da histria para o conto cokwe. Justifique sua resposta. b) Reescreva em discurso indireto o seguinte trecho do conto cokwe: Ao desafio respondia o camaleo: Chegarei a meu tempo.
(UNESP - 2024) Para responder s questes 29 e 30, leia o conto cokwe* A lebre e o camaleo e o trecho de uma crnica da escritora angolana Ana Paula Tavares, escrita sobre esse conto. *cokwe: relativo ao povo cokwe, uma etnia banta que se concentra sobretudo no nordeste de Angola. Dizem os antigos que a lebre e o camaleo resolveram ir pelos caminhos das caravanas levando borracha para permutar pelos belos tecidos vindos de oriente e ocidente. Muitas vezes a acelerada lebre ultrapassou e cruzou o lento camaleo nos longos caminhos do mato, levando produtos e trazendo panos, gritando-lhe enquanto desaparecia: C vou eu! Ao desafio respondia o camaleo: Chegarei a meu tempo. Finalmente, a lebre, assim como adquiriu bonitos panos, tambm os perdeu, nos percalos da desordenada pressa, e anda para a vestida dum cinzento escuro e sem cor. O lento e pautado camaleo juntou farta fazenda, e tanta e to diferente, que ainda hoje muda, a todo o instante, panos de variado colorido. (A lebre e o camaleo. Apud Ana Paula Tavares. Um rio preso nas mos, 2019.) *** Este conto cokwe parece resolver com felicidade questes da histria do continente africano e lidar com uma apreenso do real e do imaginrio. A escolha das personagens da histria , em si, uma das apostas destes contadores e cultores da linguagem que, de uma vez por todas, poupam a tartaruga desta disputa vulgar e da tenso de uma corrida. tartaruga esto reservados outros papis, noutras histrias que lidam com os sentidos profundos da vida e da morte, do dia e da noite. O jogo com a linguagem permite-nos perceber a histria profunda das viagens que, em momentos diferentes, estiveram na origem da formao dos cokwe como grupo autnomo: origens, terras ancestrais, relao com outros grupos, adoo de novos costumes e ainda assim fidelizao a um ncleo duro das origens. Sob sua superfcie aparentemente simples, esta histria esconde todos os mitos de fundao, rituais de passagem e a escrita da histria. Tudo ali faz sentido: as personagens, a lngua que falam e as vestes que as tornam atores de um complexo processo histrico. O resto a lentido e o desenho na areia que se faz s para ser apagado. (Ana Paula Tavares. Um rio preso nas mos, 2019. Adaptado.) a) Ao se referir tartaruga no 1o pargrafo de sua crnica, Ana Paula Tavares recorre intertextualidade. Que gnero literrio est implcito no comentrio da cronista? Que recurso expressivo ligaria de modo imediato esse gnero literrio ao conto cokwe? b) Reescreva em ordem direta os trechos Dizem os antigos que a lebre e o camaleo resolveram ir pelos caminhos das caravanas (conto cokwe) e tartaruga esto reservados outros papis (crnica de Ana Paula Tavares).
(UNESP - 2024) Para responder s questes 31 e 32, leia o trecho do ensaio A corrida armamentista do consumo, do economista e filsofo Eduardo Giannetti. Imagine uma corrida em que os contendores se afastam cada vez mais do objetivo pelo qual competem. A corrida armamentista stricto sensu tem dinmica e propriedades conhecidas: um pas, por qualquer motivo, decide se armar; os pases vizinhos sentem-se vulnerveis e decidem fazer o mesmo a fim de no ficarem defasados; sua reao, porm, deflagra uma nova rodada de investimento blico no primeiro pas, o que obriga os demais a seguirem outra vez os seus passos. A escalada armamentista leva os participantes a dedicarem uma parcela crescente da sua renda e trabalho garantia da segurana externa, mas o resultado o contrrio do pretendido. O objetivo da mxima segurana redunda, ao generalizar- -se, na insegurana geral um tnue e onipresente equilbrio armado do terror A corrida armamentista do consumo tem uma lgica semelhante. Nenhum consumidor uma ilha: existe uma forte e intrincada interdependncia entre os anseios de consumo das pessoas. Aquilo que cada uma delas sente que precisa ou no pode viver sem depende no s dos seus reais desejos e necessidades (como se quiser defini-los), mas tambm e, talvez, sobretudo, ao menos nas sociedades mais afluentes daquilo que os outros ao seu redor possuem. Ocorre, contudo, que a cada vez que um novo artigo de consumo introduzido no mercado e passa a ser usado, desfrutado ou ostentado por aqueles que pertencem ao nosso grupo de referncia restrito a amigos, parentes e vizinhana no passado, hoje expandido pelo big bang das mdias, blogs e redes digitais o equilbrio se rompe e o desconforto causado pela percepo da falta atia e impele, como ardncia de queimadura, ao reativa da compra do bem. Porm, quando todos se empenham em alcanar os que esto em cima ou ao menos no ficar demasiado atrs deles , eles passam a trabalhar mais (e/ou se endividar) a fim de poder gastar mais, ao passo que o maior nvel de gasto e consumo se torna, por sua vez, o novo normal. A lgica da situao obriga-os a correr cada vez mais depressa, como hamsters confinados a esferas rotatrias, para no sair do lugar. Todos pioraram em relao ao status quo ante, pois agora precisam ganhar mais (e/ou esto mais endividados), e nenhum dos envolvidos, a no ser que adote a opo radical de se tornar um excntrico e pular fora do carrossel, consegue isoladamente escapar da armadilha. (Eduardo Giannetti. Trpicos utpicos, 2016. Adaptado.) a) O que o autor entende por corrida armamentista do consumo? De que imagem (ou alegoria) o autor se vale no segundo pargrafo para ilustrar a dinmica dessa corrida armamentista do consumo? b) Transcreva um pequeno trecho do texto em que o narrador se dirige diretamente a seu leitor. Justifique sua escolha.
(UNESP - 2024) Para responder s questes 31 e 32, leia o trecho do ensaio A corrida armamentista do consumo, do economista e filsofo Eduardo Giannetti. Imagine uma corrida em que os contendores se afastam cada vez mais do objetivo pelo qual competem. A corrida armamentista stricto sensu tem dinmica e propriedades conhecidas: um pas, por qualquer motivo, decide se armar; os pases vizinhos sentem-se vulnerveis e decidem fazer o mesmo a fim de no ficarem defasados; sua reao, porm, deflagra uma nova rodada de investimento blico no primeiro pas, o que obriga os demais a seguirem outra vez os seus passos. A escalada armamentista leva os participantes a dedicarem uma parcela crescente da sua renda e trabalho garantia da segurana externa, mas o resultado o contrrio do pretendido. O objetivo da mxima segurana redunda, ao generalizar- -se, na insegurana geral um tnue e onipresente equilbrio armado do terror A corrida armamentista do consumo tem uma lgica semelhante. Nenhum consumidor uma ilha: existe uma forte e intrincada interdependncia entre os anseios de consumo das pessoas. Aquilo que cada uma delas sente que precisa ou no pode viver sem depende no s dos seus reais desejos e necessidades (como se quiser defini-los), mas tambm e, talvez, sobretudo, ao menos nas sociedades mais afluentes daquilo que os outros ao seu redor possuem. Ocorre, contudo, que a cada vez que um novo artigo de consumo introduzido no mercado e passa a ser usado, desfrutado ou ostentado por aqueles que pertencem ao nosso grupo de referncia restrito a amigos, parentes e vizinhana no passado, hoje expandido pelo big bang das mdias, blogs e redes digitais o equilbrio se rompe e o desconforto causado pela percepo da falta atia e impele, como ardncia de queimadura, ao reativa da compra do bem. Porm, quando todos se empenham em alcanar os que esto em cima ou ao menos no ficar demasiado atrs deles , eles passam a trabalhar mais (e/ou se endividar) a fim de poder gastar mais, ao passo que o maior nvel de gasto e consumo se torna, por sua vez, o novo normal. A lgica da situao obriga-os a correr cada vez mais depressa, como hamsters confinados a esferas rotatrias, para no sair do lugar. Todos pioraram em relao ao status quo ante, pois agora precisam ganhar mais (e/ou esto mais endividados), e nenhum dos envolvidos, a no ser que adote a opo radical de se tornar um excntrico e pular fora do carrossel, consegue isoladamente escapar da armadilha. (Eduardo Giannetti. Trpicos utpicos, 2016. Adaptado.) a) Nenhum consumidor uma ilha: existe uma forte e intrincada interdependncia entre os anseios de consumo das pessoas. (2pargrafo) Cite um sinnimo para cada um dos termos sublinhados na frase. b) nenhum dos envolvidos, a no ser que adote a opo radical de se tornar um excntrico e pular fora do carrossel, consegue isoladamente escapar da armadilha. (2pargrafo) Reescreva apenas a orao subordinada do trecho transcrito, substituindo a locuo conjuntiva por outra de valor semntico equivalente.
(UNESP - 2023) Para responder s questes 01 e 02, examine a tirinha da cartunista Laerte. Contribui para o efeito de humor da tirinha o contraste entre
(UNESP-1 FASE) Examine a tirinha do cartunista Silva Joo, publicada em sua conta do Instagram em 26.09.2019. O efeito de humor da tirinha est centrado na ambiguidade do termo
(UNESP - 2023) Para responder s questes 01 e 02, examine a tirinha da cartunista Laerte. Na fala do pai, os dois pronomes relativos que referem-se, respectivamente, a
(UNESP-1 FASE) Para responder s questes de 02 a 07, leia o trecho do conto A menina, as aves e o sangue, do escritor moambicano Mia Couto (1955- ). Aconteceu, certa vez, uma menina a quem o corao batia s de quando em enquantos. A me sabia que o sangue estava parado pelo roxo dos lbios, palidez nas unhas. Se o corao estancava por demasia de tempo a menina comeava a esfriar e se cansava muito. A me, ento, se afligia: roa o dedo e deixava a unha intacta. At que o peito da filha voltava a dar sinal: Me, venha ouvir: est a bater! A me acorria, debruando a orelha sobre o peito estreito que soletrava pulsao. E pareciam, as duas, presenciando pingo de gua em pleno deserto. Depois, o sangue dela voltava a calar, resina empurrando a arrastosa vida. At que, certa noite, a mulher ganhou para o susto. Foi quando ela escutou os pssaros. Sentou na cama: no eram s piares, chilreinaes. Eram rumores de asas, brancos drapejos de plumas. A me se ergueu, p descalo pelo corredor. Foi ao quarto da menina e joelhou-se junto ao leito. Sentiu a transpirao, reconheceu o seu prprio cheiro. Quando lhe ia tocar na fronte a menina despertou: Me, que bom, me acordou! Eu estava sonhar pssaros. A me sortiu-se de medo, aconchegou o lenol como se protegesse a filha de uma maldio. Ao tocar no lenol uma pena se desprendeu e subiu, levinha, volteando pelo ar. A menina suspirou e a pluma, algodo em asa, de novo se ergueu, rodopiando por alturas do tecto. A me tentou apanhar a errante plumagem. Em vo, a pena saiu voando pela janela. A senhora ficou espreitando a noite, na iluso de escutar a voz de um pssaro. Depois, retirou-se, adentrando-se na solido do seu quarto. Dos pssaros selou-se o segredo, s entre as duas.[...] Com o tempo, porm, cada vez menos o corao se fazia frequente. Quase deixou de dar sinais vida. At que essa imobilidade se prolongou por consecutivas demoras. A menina falecera? No se vislumbravam sinais dessa derradeiragem. Pois ela seguia praticando vivncias, brincando, sempre cansadinha, resfriorenta. Uma s diferena se contava. J noite a me no escutava os piares. Agora no sonha, filha? Ai me, est to escuro no meu sonho! S ento a me arrepiou deciso e foi cidade: Doutor, lhe respeito a permisso: queria saber a sade de minha nica. seu peito... nunca mais deu sinal. O mdico corrigiu os culos como se entendesse rectificar a prpria viso. Clareou a voz, para melhor se autorizar. E disse: Senhora, vou dizer: a sua menina j morreu. Morta, a minha menina? Mas, assim...? Esta a sua maneira de estar morta. A senhora escutou, mos juntas, na educao do colo. Anuindo com o queixo, ia esbugolhando o mdico. Todo seu corpo dizia sim, mas ela, dentro do seu centro, duvidava. Pode-se morrer assim com tanta leveza, que nem se nota a retirada da vida? E o mdico, lhe amparando, j na porta: No se entristonhe, a morte o fim sem finalidade. A me regressou casa e encontrou a filha entoando danas, cantarolando canes que nem existem. Se chegou a ela, tocou-lhe como se a mida inexistisse. A sua pele no desprendia calor. Ento, minha querida no escutou nada? Ela negou. A me percorreu o quarto, vasculhou recantos. Buscava uma pena, o sinal de um pssaro. Mas nada no encontrou. E assim, ficou sendo, ento e adiante. Cada vez mais fria, a moa brinca, se aquece na torreira do sol. Quando acorda, manh alta, encontra flores que a me depositou ao p da cama. Ao fim da tarde, as duas, me e filha, passeiam pela praa e os velhos descobrem a cabea em sinal de respeito. E o caso se vai seguindo, estria sem histria. Uma nica, silenciosa, sombra se instalou: de noite, a me deixou de dormir. Horas a fio a sua cabea anda em servio de escutar, a ver se regressam as vozearias das aves. (Mia Couto. A menina sem palavra, 2013.) E pareciam, as duas, presenciando pingo de gua em pleno deserto. (3 pargrafo) No contexto do conto, pingo de gua e pleno deserto referem-se, metaforicamente,
(UNESP-1 FASE) Para responder s questes de 02 a 07, leia o trecho do conto A menina, as aves e o sangue, do escritor moambicano Mia Couto (1955- ). Aconteceu, certa vez, uma menina a quem o corao batia s de quando em enquantos. A me sabia que o sangue estava parado pelo roxo dos lbios, palidez nas unhas. Se o corao estancava por demasia de tempo a menina comeava a esfriar e se cansava muito. A me, ento, se afligia: roa o dedo e deixava a unha intacta. At que o peito da filha voltava a dar sinal: Me, venha ouvir: est a bater! A me acorria, debruando a orelha sobre o peito estreito que soletrava pulsao. E pareciam, as duas, presenciando pingo de gua em pleno deserto. Depois, o sangue dela voltava a calar, resina empurrando a arrastosa vida. At que, certa noite, a mulher ganhou para o susto. Foi quando ela escutou os pssaros. Sentou na cama: no eram s piares, chilreinaes. Eram rumores de asas, brancos drapejos de plumas. A me se ergueu, p descalo pelo corredor. Foi ao quarto da menina e joelhou-se junto ao leito. Sentiu a transpirao, reconheceu o seu prprio cheiro. Quando lhe ia tocar na fronte a menina despertou: Me, que bom, me acordou! Eu estava sonhar pssaros. A me sortiu-se de medo, aconchegou o lenol como se protegesse a filha de uma maldio. Ao tocar no lenol uma pena se desprendeu e subiu, levinha, volteando pelo ar. A menina suspirou e a pluma, algodo em asa, de novo se ergueu, rodopiando por alturas do tecto. A me tentou apanhar a errante plumagem. Em vo, a pena saiu voando pela janela. A senhora ficou espreitando a noite, na iluso de escutar a voz de um pssaro. Depois, retirou-se, adentrando-se na solido do seu quarto. Dos pssaros selou-se o segredo, s entre as duas.[...] Com o tempo, porm, cada vez menos o corao se fazia frequente. Quase deixou de dar sinais vida. At que essa imobilidade se prolongou por consecutivas demoras. A menina falecera? No se vislumbravam sinais dessa derradeiragem. Pois ela seguia praticando vivncias, brincando, sempre cansadinha, resfriorenta. Uma s diferena se contava. J noite a me no escutava os piares. Agora no sonha, filha? Ai me, est to escuro no meu sonho! S ento a me arrepiou deciso e foi cidade: Doutor, lhe respeito a permisso: queria saber a sade de minha nica. seu peito... nunca mais deu sinal. O mdico corrigiu os culos como se entendesse rectificar a prpria viso. Clareou a voz, para melhor se autorizar. E disse: Senhora, vou dizer: a sua menina j morreu. Morta, a minha menina? Mas, assim...? Esta a sua maneira de estar morta. A senhora escutou, mos juntas, na educao do colo. Anuindo com o queixo, ia esbugolhando o mdico. Todo seu corpo dizia sim, mas ela, dentro do seu centro, duvidava. Pode-se morrer assim com tanta leveza, que nem se nota a retirada da vida? E o mdico, lhe amparando, j na porta: No se entristonhe, a morte o fim sem finalidade. A me regressou casa e encontrou a filha entoando danas, cantarolando canes que nem existem. Se chegou a ela, tocou-lhe como se a mida inexistisse. A sua pele no desprendia calor. Ento, minha querida no escutou nada? Ela negou. A me percorreu o quarto, vasculhou recantos. Buscava uma pena, o sinal de um pssaro. Mas nada no encontrou. E assim, ficou sendo, ento e adiante. Cada vez mais fria, a moa brinca, se aquece na torreira do sol. Quando acorda, manh alta, encontra flores que a me depositou ao p da cama. Ao fim da tarde, as duas, me e filha, passeiam pela praa e os velhos descobrem a cabea em sinal de respeito. E o caso se vai seguindo, estria sem histria. Uma nica, silenciosa, sombra se instalou: de noite, a me deixou de dormir. Horas a fio a sua cabea anda em servio de escutar, a ver se regressam as vozearias das aves. (Mia Couto. A menina sem palavra, 2013.) Alm da variedade de discursos diretos e indiretos, a narrativa de fico, a partir das ltimas dcadas do sculo XIX, utiliza um tipo de discurso que consiste na combinao dos j existentes, misturando valores estilsticos de um e de outro: o discurso indireto livre. O discurso indireto livre no deixa claro quem est com a palavra, se o narrador ou a personagem. (Nilce SantAnna Martins. Introduo estilstica, 1989. Adaptado.) Constitui exemplo de discurso indireto livre o seguinte trecho:
(UNESP - 2023) Para responder s questes de 03 a 06, leia um trecho do prefcio O recado da mata, do antroplogo Eduardo Viveiros de Castro, para o livro A queda do cu: palavras de um xam yanomami, de Davi Kopenawa e Bruce Albert. A queda do cu um acontecimento cientfico incontestvel, que levar, suspeito, alguns anos para ser devidamente assimilado pela comunidade antropolgica. Mas espero que todos os seus leitores saibam identificar de imediato o acontecimento poltico e espiritual muito mais amplo, e de muito grave significao, que ele representa. Chegou a hora, em suma; temos a obrigao de levar absolutamente a srio o que dizem os ndios pela voz de Davi Kopenawa os ndios e todos os demais povos menores do planeta, as minorias extranacionais que ainda resistem total dissoluo pelo liquidificador modernizante do Ocidente. Para os brasileiros, como para as outras nacionalidades do Novo Mundo criadas s custas do genocdio americano e da escravido africana, tal obrigao se impe com fora redobrada. Pois passamos tempo demais com o esprito voltado para ns mesmos, embrutecidos pelos mesmos velhos sonhos de cobia e conquista e imprio vindos nas caravelas, com a cabea cada vez mais cheia de esquecimento, imersa em um tenebroso vazio existencial, s de raro em raro iluminado, ao longo de nossa pouco gloriosa histria, por lampejos de lucidez poltica e potica. Davi Kopenawa ajuda-nos a pr no devido lugar as famosas ideias fora do lugar, porque o seu um discurso sobre o lugar, e porque seu enunciador sabe qual , onde , o que o seu lugar. Hora, ento, de nos confrontarmos com as ideias desse lugar que tomamos a ferro e a fogo dos indgenas, e declaramos nosso sem o menor pudor [...]. (A queda do cu: palavras de um xam yanomami, 2015.) De acordo com o autor,